O presidente norte-americano proferiu na noite desta quinta-feira as declarações mais agressivas contra o ditador norte-coreano desde que começou o período de apaziguamento, no início de março. Donald Trump ameaçou Kim Jong-un, dizendo que o jovem líder pode acabar como Muammar Khadafi caso não entregue as suas armas nucleares em breve e por completo. E sugeriu-o ao lado do secretário-geral da NATO; Jens Stoltenberg.
A ameaça pode ter sido uma argolada. Trump respondia a perguntas dos jornalistas na Casa Branca no momento em que foi questionado sobre o chamado "modelo líbio", a solução apresentada há dias pelo seu conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, como o formato indicado para a desnuclearização da Coreia do Norte. A sugestão de Bolton foi recebida com violência em Pyongyang. Mas já lá vamos.
"O modelo, se encararmos o que aconteceu com Khadafi, representa uma dizimação total", começou por dizer Trump, parecendo entender as palavras "modelo líbio" como termo para a intervenção militar da NATO no país – o que não é verdade. "Chegámos lá para o derrotar. Esse modelo pode acontecer [com a Coreia do Norte] caso não consigamos um acordo, muito provavelmente. Mas se chegarmos a um acordo, acho que o Kim Jong-un ficará muito, muito feliz."
O "modelo líbio" diz respeito ao desarmamento nuclear voluntário de Khadafi, não à intervenção militar na Líbia. Era a isso que Bolton se referia quando o sugeriu, há dias, na Fox News. Ocorreu anos antes da Primavera Árabe e da intervenção aérea da NATO que fez tombar o ditador. Khadafi aceitou promessas de reaproximação aos países ocidentais a troco do seu embrionário programa nuclear, em 2003. Khadafi desarmou, mas acabou mesmo assim tomabado à força em 2011.
A aparente argolada de Trump pode sair-lhe caro. A Coreia do Norte congelou os contactos com o Sul no início desta semana, colocando também em dúvida a cimeira de junho com Trump, aparentemente para conseguir uma melhor mão para as negociações. Pyongyang diz que está a dar um passo atrás na relação americana, especificamente, devido à recente sugestão de Bolton e ao espetro de um "modelo líbio" para o desarmamento.
Na Coreia do Norte referem-se frequentemente os destinos de Muammar Khadafi e Saddam Hussein como alertas reveladores do que pode acontecer ao reino eremita caso confie nas promessas do ocidente e entregue as suas armas. Os dois ditadores são duas das principais razões pelas quais o regime não pretende largar mão do nuclear: Pyongyang considera que as armas nucleares são o único dissuasor absolutamente eficaz contra uma invasão.