A probabilidade de o furo de prospeção ao largo de Aljezur revelar a existência de petróleo comercialmente utilizável é de 20%. A estimativa é do consórcio Eni/Galp, que a meio da semana teve a autorização da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) para a prospeção. Nas contas do consórcio, «a taxa de probabilidade de encontrar uma quantidade de petróleo que seja comercialmente viável é próxima de 20%» e é uma hipótese que tem por base o historial de outros projetos «offshore em que nunca foi feita exploração».
A indústria do petróleo parte de um princípio que é transversal a todo este tipo de atividade: existe sempre uma grande incerteza quanto à presença deste tipo de recursos na crosta terrestre e, apesar do grande avanço da tecnologia, as empresas que estão dispostas a investir na abertura de um furo sabem perfeitamente que a probabilidade de não encontrar nada é grande e é sempre maior do que a de encontrar. «Daí que os 20% me pareçam bastante sensatos do ponto de vista dos números que são projetados», afirma ao SOL um especialista com larga experiência nesta atividade. Mas «quer a Galp, quer a Eni sabem que há uma probabilidade elevadíssima de fazer aqui um furo e vir de lá com nada. Mas também há uma probabilidade de poder vir de lá com bastante», diz.
Em relação à possível quantidade de petróleo que poderá haver numa eventual jazida, o consórcio afirma ao SOL que «o objetivo do poço é apenas confirmar se há hidrocarbonetos neste setor da costa portuguesa».
No entanto, um estudo da Galp/Eni citado pela comunicação social ao longo da semana aponta para que no fundo do mar da costa vicentina possam estar 1000 a 1500 milhões de barris petróleo. A quantidade é equivalente ao atual consumo em Portugal durante um período de 10 a 15 anos. A título de exemplo, o maior campo petrolífero do mundo. Ghawar, na Arábia Saudita, tem à volta de 100 mil milhões de barris.
Caso as estimativas se confirmem as receitas potenciais são de 57 mil milhões de euros. Nos 30 anos de concessão, o Estado poderá receber 4 mil milhões de euros de royalties. «A confirmar-se a existência de petróleo isso contribuirá para a substituição de importações. A fatura da importação de petróleo pesa negativamente na balança comercial e é muito elevada», afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, na apresentação da decisão da APA.
Na mesma conferência de imprensa, o presidente da APA, Nuno Lacasta, justificou a decisão referindo que «não foram identificados impactos negativos significativos» na realização do furo, que várias organizações estão a tentar bloquear. Os opositores argumentam que os riscos são maiores do que a hipótese de encontrar quantidades significativas de petróleo.
Durante o séc. XX foram várias as empresas petrolíferas que perfuraram poços em Portugal mas nunca encontraram se não vestígios de hidrocarbonetos. No início dos anos 2000, as perfurações diminuíram, mas os estudos sísmicos continuaram.
Em 2007, a portuguesa Galp obteve a licença de exploração na bacia alentejana em conjunto com a brasileira Petrobras. Em 2014, a italiana Eni comprou a parte da Petrobras. A Eni é a operadora do consórcio, detendo 70%, com a Galp a deter os restantes 30%.
Esta é uma «atividade com um grande risco comercial intrínseco e por isso criam-se sempre consórcios para partilhar o risco, que está aqui em jogo», diz um SOL uma fonte conhecedora da atividade. «Para fazer um furo destes estão envolvidos umas centenas de milhões de euros. Para fazer um furo de prospeção que é o que vão fazer neste momento com risco elevado é à volta de 100 a 200 milhões de dólares», lembra ainda.
A razão para a prospeção de hidrocarbonetos na costa portuguesa prende-se com o perfil geológico desta zona do globo. Com formações geológicas parecidas e origens que remontam à mesma época, é razoável pensar que o hidrocarboneto que se encontre aqui seja parecido com o que se encontrou no Golfo do México. No passado, estas zonas estiveram juntas. Inicialmente, há 250 milhões de anos, todos os continentes estavam juntos. A separação começou há 150 milhões de anos e a geografia atual dos continentes data de há 40 milhões de anos.
«Há aqui uma probabilidade de que, conforme do outro lado do Atlântico se encontraram jazidas e bastante recursos, deste lado também poderão existir porque as origens de formação geológica também são as mesmas», revela o mesmo especialista, acrescentando que se pode estimar que «o tipo de produto possa ter uma determinada característica» semelhante à do outro lado do Atlântico.
No atual contexto mundial, só o chamado incumbente – a Galp – é que está disposto a investir e em conjunto com uma outra empresa que possa ter algum interesse estratégico em associar-se por força das ligações que Portugal possa ter com outras regiões, como Moçambique ou Angola. «Quem tem 100 ou 200 milhões de dólares para investir não vem para a costa portuguesa, a não ser que seja o incumbente», revela o mesmo especialista, e a Galp «não tem verdadeiramente muitas oportunidades por esse mundo fora», acrescentando que «esta é a sua praia», pelo que se compreende «perfeitamente». A mesma fonte diz ainda que, a concretizar-se o projeto, este é «um recurso que pode ser ainda estratégico para o país, que pode ajudar imenso, que pode desenvolver a indústria e com imensas vantagens económicas para o país».
O consórcio Eni/Galp garante que a perfuração em Aljezur vai «utilizar a melhor tecnologia e os mais avançados procedimentos operacionais de forma a garantir as condições de segurança máximas».
A pesquisa de petróleo na bacia do Alentejo deverá começar entre setembro e outubro, após uma preparação com uma duração estimada de três meses. A data de início da perfuração poderá ser entre 15 de setembro e 15 de janeiro de 2019 e os trabalhos vão ter a duração de 46 dias.
Antes da atividade de perfuração daquele que será o primeiro furo de pesquisa de hidrocarbonetos em Portugal – localizado a 46 quilómetros da costa e a cerca de 1000 metros de profundidade – há uma fase de preparação durante a qual «todos os materiais necessários para a perfuração serão fornecidos e preparados na base logística, em Sines», a 88 quilómetros do local da sondagem, com duração de três meses.
Depois da decisão da APA, o Governo afirmou que o facto de o furo avançar deve-se ao cumprimento de contratos já firmados pelo Estado português. Ao mesmo tempo , anunciou a suspensão de novas licenças de petróleo até ao final da legislatura, em 2019, mantendo-se inalterados os furos da Eni/Galp e da australiana Australis na Batalha e Pombal.