Ana Maria da Silva. “O encosto à esquerda está a fazer bem ao PS”
Pelo sotaque, percebemos que Ana Maria é madeirense. Ela confirma: “Sim, vim da Madeira de propósito para o congresso.” Confessa-se “apoiante desde a primeira hora de António Costa”. “Gostei muito das palavras dele”, diz, referindo-se ao discurso de abertura do secretário-geral, na sexta-feira. Sobre o acordo do PS com o PCP e com o BE, Ana Maria mostra-se muito satisfeita: “Acho muito bem, estão a fazer um bom trabalho. Já repuseram os dias de férias, os feriados, as reformas. Tudo isso conta.” “Este encosto à esquerda está a fazer bem ao PS e ao país”, atira. Sobre se os casos de corrupção envolvendo José Sócrates mancham o partido, Ana Maria diz que não. “Nós também não sabemos se aquilo é tudo verdade ou é mentira, não é?”, pergunta.
Tiago Cardoso. Caso Sócrates não mancha o PS, “porque é que havia de manchar?”
Este militante de Azeitão viu o discurso de abertura de António Costa pela televisão, mas não tem dúvidas: “Costa é cada vez mais o líder do nosso partido e do nosso país, gostei do discurso, estou plenamente de acordo com ele.” Antes do discurso, a organização mostrou fotografias de antigos líderes e José Sócrates foi aplaudido. “Uma coisa é certa, ele foi líder do nosso partido e do nosso país, tem o seu valor, não sou eu que vou falar dele.” E casos como os de Sócrates podem manchar a imagem do partido? “Não prejudica em nada o PS, porque é que havia de prejudicar?” Já sobre as próximas eleições, Tiago Cardoso é perentório: “Tenho a certeza que o PS vai ter maioria absoluta. Nem esperes outra resposta da minha parte.”
Joaquim Alves Rodrigues. O homem da bandeira que não troca a geringonça por nada
Não há quem chegue ao congresso que não repare em Joaquim, que vai passeando à frente do espaço com uma enorme bandeira do PS. É de Caminha e, cabisbaixo, diz-nos que provavelmente será o seu último congresso socialista: “A idade avança, tenho quase 80 e já não tenho pedalada.” Conta-nos que já muito antes do 25 de Abril era do contra, “do reviralho”, e, desde então, o socialismo está-lhe entranhado.
“Sou-lhe franco: não gosto de maiorias absolutas. Se o povo der maioria absoluta ao PS, pronto, aceito, mas gosto mais deste sistema com PCP e BE”, diz-nos quando questionado sobre a geringonça. “O PS tem lá uns malandros que são mais do outro lado do que socialistas e é preciso alguém que possa pôr um travão nisso”, diz.
Brígida Batista. “Aplaudi o Pedro Nuno Santos até me doerem as mãos”
Brígida é de Lisboa e pertence à central sindical dos professores da Grande Lisboa. À primeira questão sobre Sócrates, se o aplaudiu no congresso, consegue esquivar-se: “Não fui dos que o aplaudiram, mas hoje aplaudi muito o Pedro Nuno Santos, até me doerem as mãos.” “Gostava que ele fosse o próximo primeiro-ministro”, acrescenta. À segunda investida sobre Sócrates, acerca da sua saída, diz-nos apenas que “era um militante como outro qualquer”. Depois mostra satisfação com a geringonça: “Pronto, o PS com maioria absoluta não desagrada a nenhum socialista, mas, não acontecendo isso, eu acho que a única alternativa é continuar com a dita geringonça, que é emblemática pelo mundo todo.” E um acordo à direita? “Nem pensar. Nunca.”
António Correia Vigo. “Prefiro uma geringonça a um PS isolado”
À semelhança de Brígida, este militante do Porto começa logo por elogiar Pedro Nuno Santos: “Gostei muito da intervenção do António Costa, mas gostei ainda mais do discurso do Pedro Nuno Santos. É mais incisivo, mais direcionado à esquerda.” Sobre Sócrates, diz que “não faz falta nenhuma ao PS” e que “já se devia ter desfiliado há mais tempo”. “E eu era um apoiante 100% Sócrates. Mas depois disto tudo…”, deixa no ar. António mostra-se um adepto do acordo do PS à esquerda. “Se fosse tudo da mesma cor, também estaria a funcionar tudo bem? Eu quero que o PS ganhe, mas que seja muito bem supervisionado. Prefiro a geringonça a um PS isolado. Mas isso é com todos os partidos, uma maioria absoluta nunca dá bom resultado”, sublinha.
Luciano e José. “Se o PS fizer bloco central vamos para o Bloco de Esquerda”
Os dois amigos vieram de longe, de Mogadouro. Vieram de propósito para ouvir Manuel Alegre e António Costa, diz-nos Luciano. “E o Carlos César”, interrompe José Moreira. “Sobre o José Sócrates, eu digo-lhe aquilo que é a realidade. Ele tem-se defendido muito e pressionado o Ministério Público a dizer que está inocente. Eu cá duvido. Sou um grande fã dele, mas já duvido”, diz Luciano, que é mais uma vez interrompido por José: “Ele trabalhou muito para o país e nós, transmontanos, devemos-lhe muito.” “Eu cá estou muito bem assim”, diz Luciano, referindo-se à geringonça. E vai mais longe: “Sou-lhe franco, se o PS fizer bloco central, vou para o Bloco de Esquerda. Não quero alianças à direita, prefiro entregar o meu cartão de socialista.” “Eu também”, concorda José.
Sílvia Torres. O acordo à esquerda “serve perfeitamente”
Também veio de longe, de Ponte da Barca. E também Sílvia se mostra incomodada com o tema José Sócrates, mas lá acaba por dizer que não sabe se está inocente, mas “também o aplaudiria por tudo o que fez”. Para Sílvia, estes escândalos “podem afetar o partido e sobretudo contribuir para uma imagem dos políticos que já não é nada favorável”.
Sobre o acordo com o Bloco de Esquerda e com o Partido Comunista, Sílvia diz que “tem resultado e tem futuro”. “Ainda assim, acho que o PS vai ter uma maioria absoluta nas próximas eleições. Se não tiver, prefiro uma aliança à esquerda, como agora, do que uma aliança à direita. Uma geringonça serve perfeitamente”, diz.
Olga Almeida. Para quem o PS é família
À pergunta “é militante?”, responde “não, sou família”. Perante a nossa confusão com a resposta, esclarece: “O PS, para mim, é família. Casei com ela em 1980.” Sobre Sócrates, diz que “é um homem do PS, independentemente do que esteja em causa, aqui só tem de ser aplaudido”. Para Olga, este caso “não mancha o partido, são casos individuais”. “Há instâncias próprias para os julgamentos”, acrescenta.
“Nas eleições, espero que o PS continue a governar e que, se não houver melhor situação, continue a governar à esquerda. Estou muito satisfeita com estes anos de geringonça”, refere. Sobre uma possível aliança à direita, concorda com a maioria dos restantes entrevistados: “Não fico satisfeita se esse for o caminho.”
Eduardo Morais. “O partido tem de melhorar e corrigir-se”
É de Matosinhos e diz estar convicto de que o PS vai ter maioria absoluta nas legislativas do próximo ano, mas… “se não houver maioria absoluta, que se mantenha assim, não se trabalhou mal e conseguiu-se gerir as diferenças. Virar à direita não é o melhor caminho”. “A geringonça tem estado a cumprir aquilo de que estava à espera”, realça. Sobre o discurso do secretário-geral, Eduardo diz que “era o esperado” porque “falou do partido para dentro e não para fora, que é o que faz sentido”. O tema Sócrates também não faltou: “Foi um grande primeiro-ministro independentemente daquilo que possa ter feito na vida pessoal. Não mancha o partido, o partido é maior do que isso. Mas o partido tem de melhorar e corrigir-se.”
André Santos. “Costa desfez o mito”
É o mais jovem militante socialista com quem falámos mas, mesmo assim, não tem uma opinião contrária aos restantes. Militante socialista desde os 18 anos, diz ter decidido a sua ideologia por volta dos dez. Agora, com 25, reconhece que o discurso de Costa foi bom e que estes anos de governação desfizeram o “mito de que a esquerda não se podia entender”. “Estou satisfeito com o acordo à esquerda. Independentemente de o PS ganhar com maioria absoluta ou relativa, acho que deve haver estes acordos, que são vantajosos principalmente para os mais desfavorecidos”, diz. Sobre Sócrates, mantém-se mais ou menos neutro: “Há quem idolatre Sócrates e há quem o odeie, eu fico no meio. Não me faz confusão que o tenham aplaudido.”