O fim de semana foi uma autêntica dor de cabeça para as forças de segurança portuguesas, que tinham indicações claras de que uma célula marroquina do Daesh poderia levar a cabo um atentado na Fundação de Serralves, no Porto, apurou o i junto de fonte ligada às investigações. Quer a Polícia Judiciária (PJ) quer o Serviço de Informações e Segurança (SIS) e a PSP andaram numa luta contra o tempo, pois não queriam cancelar as festas de Serralves, que contaram inclusivamente com a presença do Presidente da República, que soprou as 15 velas do Serralves em Festa, mas teriam de ter a certeza de que a suposta bomba de que falava a célula marroquina, em conversas intercetadas pelas forças de segurança portuguesas, não estava no espaço.
Com milhares de pessoas presentes no recinto, as brigadas de minas e armadilhas da PSP tentaram fazer o seu trabalho o mais discretamente possível, para não levantarem suspeitas, e o seu trabalho só ficou concluído na manhã de domingo. Apesar do nervosismo natural dos responsáveis da operação, foi decidido que o Presidente, bem como Maria Manuel Leitão Marques, ministra da Presidência, não anulavam a sua visita.
Carta em francês Há muito que elementos marroquinos afetos ao Daesh andam a ser seguidos em Portugal, já que alguns dos seus elementos chegaram mesmo a ser expulsos do país aquando da visita do Papa, a 12 e 13 de maio do ano passado (ver caixa), quando preparavam um atentado contra o chefe máximo da Igreja Católica. Desta vez, o SIS e a PSP foram surpreendidos com a entrega de uma carta escrita em francês por muçulmanos “com ar fundamentalista”, como diz ao i a mesma fonte, a um transeunte, com a indicação de a entregar na polícia. Os supostos fundamentalistas fugiram num carro sem matrícula, o que levantou ainda mais suspeitas.
Mas o i sabe que as conversas intercetadas pelos serviços secretos falavam numa bomba que seria deixada no recinto. As autoridades ainda não conseguiram descobrir se tudo não passou de um teste da célula marroquina – por forma a testar a capacidade das polícias portuguesas – ou se a ameaça era mesmo real. Certo é que o Porto é a zona de Portugal que mais atenção terá no futuro para evitar prováveis ataques terroristas, atendendo a que algumas madraças – escolas onde o Corão é ensinado de forma radical – acolhem fundamentalistas marroquinos que estão a ser “expulsos” de Espanha, como acrescentou outra fonte contactada pelo i.
O fim de semana foi de alerta geral na Europa e os serviços secretos europeus estavam de sobreaviso para um eventual ataque em três cidades: Bruxelas, Londres e Paris. No entanto, há quem defenda que tudo não passou de um exercício de prevenção à escala europeia, mas, no caso de Serralves, o i apurou que se tratou de uma ameaça real.
Fonte ligada às investigações diz, por outro lado, que esta ameaça serviu para testar a cooperação entre as diferentes polícias portuguesas e que tudo correu “muito bem”.
Perigo marroquino As autoridades portuguesas têm uma excelente cooperação com as congéneres argelinas e marroquinas, mas é deste país que vêm as maiores preocupações, já que há muitos seguidores do Daesh que vivem em Espanha. Com o controlo cada vez mais apertado em França, Bélgica e Inglaterra, os serviços secretos acreditam que os fundamentalistas irão deslocar-se para países onde a segurança não é tão apertada.
Por isso, as madraças no Porto, e onde existem em Portugal, estão sob forte vigilância no que diz respeito a novos elementos que tenham chegado ao país há pouco tempo.