A convocatória para a reunião surgiu a meio da tarde de quinta-feira. Os deputados do PS tinham uma reunião da bancada parlamentar ao contrário do previsto. Vieira da Silva, ministro do Trabalho e da Segurança Social, esteve no Parlamento duas horas a explicar aos deputados socialistas as alterações legislativas laborais que vão a votos no dia 6 de julho. No final do encontro foi Carlos César, líder parlamentar socialista, quem falou para defender uma «concertação parlamentar» na área laboral. O objetivo foi claro: acalmar alguns deputados socialistas e a esquerda que apoia o Governo.
O Bloco de Esquerda não foi informado de que os socialistas tencionavam fazer alterações às propostas. Souberam pelas declarações proferidas por César já de madrugada. «Só soubemos, por essas declarações, que o acordo assinado entre o Governo e os patrões não seria integralmente acolhido pelo Parlamento, o que é um sinal de que, de facto, não é a concertação social que faz a lei laboral», declarou ao Sol o deputado do Bloco José Soeiro. A CGTP já anunciou que estará em protesto junto ao Parlamento no dia do debate. Tal como no passado, a CGTP não assinou o acordo de concertação social. E não assinou porque quer o salário mínimo nacional nos 650 euros em 2019, o fim da caducidade das convenções coletivas, a consagração das 35 horas de trabalho semanal para todos, além da reposição dos 65 anos como idade legal da reforma.
Na frente parlamentar, o PCP prepara mais um momento de ataque ao Governo no debate de dia 6, porque, tal como já disse o secretário-geral comunista, o acordo de concertação será pior. « Num passe de prestidigitação, dá-se a ideia que tudo vai mudar, mas por baixo do diáfano manto da fantasia, o que é essencial está lá e continua, não mudou e o que se acrescentou para dar ilusão de mudança é para ficar pior. Como é o caso do alargamento do período experimental para 180 dias ou da criação de um novo banco de horas grupal reformulado», avisou Jerónimo de Sousa nas jornadas parlamentares, num tom que deve marcar o encontro com o primeiro-ministro.
No PS houve quem questionasse algumas propostas, sobretudo porque a bancada recebeu o conjunto de 27 propostas no Parlamento como ato consumado. Do lado do BE, José Soeiro recorda que os bloquistas apresentarão seis projetos-lei para eliminar algumas «propostas inaceitáveis» como o alargamento do período experimental para os jovens de noventa para 180 dias, ou a criação de um novo banco de horas fora da contratação coletiva. No final, o PS terá de avaliar o apoio do PSD, que ainda não abriu o jogo sobre o seu sentido de voto.