A administração Trump está a aprofundar a sua ofensiva comercial global e apresentou ontem uma série de tarifas à importação de bens chineses no valor de milhares de milhões de dólares, numa decisão para a qual a Pequim já tinha avisado que iria retaliar. Também a União Europeia (UE) e o Canadá preparam retaliações. A guerra comercial mundial começa no verão.
Responsáveis pelo comércio da Casa Branca e dos departamentos do Comércio e do Tesouro reuniram antes do Presidente norte-americano ter participado na cimeira do G7 e concordaram que os EUA deveriam avançar com as taxas alfandegárias. Ontem, Trump anunciou a imposição de tarifas aduaneiras de 25% sobre 50 mil milhões de dólares de importações chinesas. Em causa está a imposição de uma tarifa sobre 1.102 categorias de produtos oriundos da China devido ao alegado roubo de propriedade intelectual dos EUA por parte da China.
«A minha relação formidável com o Presidente Xi Jinping da China e a relação do nosso país com a China são importantes para mim. No entanto, o comércio entre as duas nações é desequilibrado há muito tempo», justificou Donald Trump em comunicado. O Presidente dos EUA avisou ainda que o país imporá novas tarifas se a China desencadear medidas de represália, como por exemplo a imposição de novas taxas sobre bens norte-americanos, sobre os serviços ou sobre produtos agrícolas.
Horas antes Pequim tinha avisado que a sua resposta às taxas tarifas «será imediata» e que tomará as medidas necessárias para defender os seus «legítimos direitos e interesses».
Para além disso, Pequim renovou a ameaça de invalidar qualquer acordo comercial com os EUA. «Já tornámos claro que caso os EUA avancem com sanções comerciais, incluindo a imposição de taxas alfandegárias, qualquer dos acordos alcançados entre os dois lados no comércio e economia não entrarão em efeito», afirmou a porta-voz do Ministério dos Negócios estrangeiros de Pequim. A China tinha Pequim concordado em «aumentar significativamente» as suas compras de produtos agrícolas e recursos energéticos norte-americanos.
A lista de produtos chineses exportados para os EUA a serem penalizados com o aumento das tarifas valeram no ano passado 50 mil milhões de dólares. Os EUA querem penalizar estas exportações como retaliação contra o que consideram ser o sistemático roubo de propriedade intelectual norte-americana pela China.
«Os Estados Unidos não podem mais tolerar a perda da sua tecnologia e propriedade intelectual através de práticas económicas injustas», refere Trump no comunicado. «Estas tarifas são essenciais para prevenir mais transferências injustas de tecnologia norte-americana e propriedade intelectual para a China, o que vai proteger os empregos» nos EUA, acrescenta. «Além disso, serão o primeiro passo no sentido do equilíbrio da relação comercial entre os Estados Unidos e a China».
Tensões comerciais
Em 2017, os EUA importaram 505 mil milhões de dólares em produtos da China e exportaram cerca de 130 mil milhões, o que resultou num défice de 376 mil milhões de dólares, de acordo com os dados da administração norte-americana. Esta diferença é frequentemente usada por Trump para apontar o dedo à China, e outros parceiros comerciais.
Como por exemplo no final do G7, no passado fim de semana, quando Trump escreveu no Twitter que os EUA «não permitirão que outros países imponham tarifas e tarifas maciças aos seus agricultores, seus trabalhadores e suas empresas».
Os sinais de tensões comerciais foram sendo percetíveis ao longo da cimeira que junta os líderes os sete países mais industrializados do mundo (EUA, Canadá, Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Japão). No final do encontro, o primeiro-ministro canadiano e anfitrião da cimeira, Justin Trudeau, disse que a partir do dia 1 de julho o Canadá começará a impor represálias comerciais aos EUA. Também o Presidente francês Emmanuel Macron confirmou que as taxas decididas pela UE contra os EUA vão começar a ser aplicadas no próximo mês. A lista final de produtos aos quais serão aplicadas tarifas ainda está a ser ultimada.
«Dada a convicção de Trump que os EUA estão a perder no comércio […] não vemos os riscos a diminuir, pelo menos num futuro próximo», afirma a Pimco, a maior gestora de ativos do mundo. «De facto, com o número de potenciais catalisadores durante o próximo mês» o conflito comercial «deverá intensificar-se».