O Brasil venceu, foi muito melhor que o adversário, mas o grande Brasil só apareceu a partir dos 60 minutos. 19 remates e mais de 65% de posse são números arrasadores que contrastam com os 2 remates dos ‘Ticos’. Nada a dizer em relação à justiça da vitória.
Excelente Costa Rica! Chega a este Mundial com um golo de Watson, um defesa central de 30 anos que no último minuto do penúltimo jogo da fase de qualificação, contra as Honduras, conseguiu mais este milagre. Já depois de, em 2014, ter caído aos pés da Holanda por 4-3 nas grandes penalidades (não perdeu nenhum jogo).
O grande Brasil de Tite, que na minha modesta opinião continua a ser o grande candidato, o supremo candidato, sofreu! E sofreu porque, perante uma linha defensiva dos costa-riquenhos em 5x4x1, com os extremos Bryan Ruiz e Venegas sempre a fechar o espaço lateral aos laterais brasileiros, muito recuados, em coberturas constantes, Marcelo e Fágner quase fora de jogo, e um Brasil a jogar devagar, devagarinho. Hoje por hoje – e sobretudo nestas competições mais curtas –, as grandes equipas são aquelas que conseguem no tempo e no espaço ter velocidade de execução! É inevitável: temos visto isso em quase todos os jogos. Sem tempo, espaço e velocidade de execução, raramente se conseguem furar organizações defensivas (Islândia, Costa Rica, Irão, México… entre outras).
O Brasil precisa de ser Brasil, precisa de provocar os espaços, precisa de 1×1, de desequilíbrios sem bola, com movimentações constantes, de jogo posicional com tabelinha e toca e vai. Ora, o que se viu nos primeiros 55 minutos foi um Brasil do toca e fica!!! É necessário aumentar o ritmo ofensivo, com maior variedade nos seus movimentos. Este Brasil pareceu muito standard durante boa parte do jogo. Ordem sim, progresso não!
Marcelo Bielsa, o treinador argentino, diz muitas vezes (passe a tradução) «Não interessa passar a bola constantemente, se não consegues gerar nada». É inútil tocar, tocar, tocar sem progredir ou abrir linhas de passe que desmontem o adversário.
O Brasil venceu – e as vitórias estão muito ‘caras’ neste Mundial. Muitas surpresas, excelentes organizações defensivas e coletivas, mas ao grande candidato exige-se mais. Aos grandes craques e treinadores exige-se arte e diferenciação. O Brasil ganhou hoje já com o plano C. O que se exige é um Brasil provocador, ofensivo, imprevisível! Com Firmino e Gabriel na frente, com Casemiro e Coutinho a entrarem na área, com Douglas Costa a ‘rebentar’ os oponentes qual Rivelino!
Neymar chorou convulsivamente, foi o choro da libertação. A partir de agora cheira-me que vai ser um caso sério de qualidade.
Ordem e Progresso até ao fim.