A quinta-feira foi negra para relação entre a direção parlamentar e a direção do PSD. Os sociais-democratas aprovaram o projeto-lei do CDS para eliminar o adicional ao imposto sobre os combustíveis. Rui Rio, o presidente do partido, ficou furioso e desautorizou a equipa do líder parlamentar, Fernando Negrão.
«A bancada votou completamente à revelia do doutor Rui Rio e isso é gravíssimo», afiançou uma fonte da direção, citada pela Lusa. A frase ampliou o mal-estar. Na base do problema está uma regra regimental do Parlamento. Rio não se conformou com a ideia de o PSD ter votado a favor do projeto-lei do CDS. Os sociais-democratas avançaram com uma mera recomendação. Porém, para viabilizar a proposta de reavaliação do adicional do ISP, o PSD teria de votar o texto do CDS, uma vez que foi o primeiro a dar entrada na mesa do Parlamento.
Perante a fúria de Rio, Negrão bem tentou ontem justificar as opções do partido no Parlamento, mas os danos foram evidentes. «Eu procedi nesta matéria como procedo em todas as outras com a direção do partido, designadamente com o doutor Rui Rio», declarou aos jornalistas, sem responder à pergunta mais difícil: tem ou não condições para se manter no cargo?
Na bancada social-democrata o sentimento é de incredulidade. «Os deputados não podem ser responsabilizados por não saberem a posição do partido», respondeu ao SOL uma fonte parlamentar. Outro deputado considerou que se Rio declarar, publicamente, que a bancada votou à sua revelia, então Negrão «não tem condições para continuar no cargo».
A semana não poderia ter corrido pior. Quarta-feira, no debate quinzenal, o líder parlamentar do PSD já tinha tomado a palavra para atacar o Governo sobre os cortes de fundos comunitários. O registo não fora suficiente para animar os deputados sociais-democratas. A meio da discussão, a bancada do PSD apresentava várias cadeiras vazias, um facto registado até noutras bancadas parlamentares.
O ministro-sombra para a solidariedade social de Rio, Silva Peneda, acrescentou mais incertezas no PSD. Em entrevista à Renascença e ao Público, admitiu a viabilização do Orçamento do Estado de 2019. A ideia caiu como uma bomba no Parlamento. Porém, ao SOL, Silva Peneda garantiu que não concertou a sua posição com Rio. «Em condições normais, o PSD votará contra o Orçamento», defendeu o antigo presidente do Conselho Económico e Social.
Entre os deputados ouvidos pelo SOL, ninguém quis admitir a hipótese de vir a viabilizar o Orçamento. A mensagem a passar é a de que não foi essa a ideia que a direção de Rio transmitiu ao grupo parlamentar. Mas se a direção do partido der orientações para viabilizar o Orçamento, Rio pode contar com um clima de guerra civil interno e quebras de disciplina de voto.
O silêncio inicial do líder social-democrata sobre a votação do Orçamento de 2019 abriu o caminho também ao nervosismo entre os seus apoiantes. «Acho impensável o PSD viabilizar esse documento. Não acredito que o Dr. Rui Rio caia daí abaixo. Ainda que seja óbvio que a troika do governo se vai entender», desabafou no Facebook Arménio Santos, antigo líder dos TSD (Trabalhadores Sociais-Democratas). O deputado do PSD Carlos Abreu Amorim também mostrou o seu desagrado nas redes sociais: «Peço a Rui Rio para esclarecer a sua posição quanto antes. Caso contrário, os eleitores do PSD podem pensar que é ele mesmo que está a falar através dos seus ventríloquos».