O que tem em comum a decisão de uma suspensão de 27 militantes do PSD e a guerra eleitoral do CDS na distrital do Porto? Tudo. Nas eleições da distrital do CDS-Porto, no passado fim de semana, a candidatura da deputada Cecília Meireles detetou 27 elementos filiados no PSD. Enviou o caso para a secretaria-geral do CDS e os centristas contactaram os sociais-democratas. O secretário-geral do PSD, José Silvano, afirmou ao SOL que os casos foram analisados. «Já avaliámos e enviámos [o processo] para o Conselho de Jurisdição Nacional», afirmou. É a primeira vez que o PSD se vê confrontado com esta situação e Silvano garantiu: «Já os suspendi automaticamente».
Os estatutos do PSD são claros em matéria de deveres do militantes e preveem a possibilidade de expulsão nestes casos. «Não se inscrever em associação ou organismo associado a outro partido ou dele dependente, ou em qualquer associação política não filiada no Partido, sem autorização do Conselho Nacional», dizem os estatutos.
O processo no PSD resultou de um processo que assombrou o CDS nas últimas duas semanas.
A líder do CDS-PP, Assunção Cristas, queria uma lista única nas eleições distritais do Porto. Falhou no objetivo e a sua vice-presidente, Cecília Meireles, manteve-se na corrida eleitoral contra o então vice-presidente da distrital, Fernando Barbosa. O resultado não poderia ter sido mais expressivo para Barbosa: 60 por cento dos votos a favor contra 40 por cento da dirigente nacional Cecília Meireles.
A derrota foi amarga, mas a vice-presidente do CDS parece ter resistido ao embate. Questionada pelo SOL sobre se colocou o seu lugar à disposição da direção, a resposta foi curta: «Não vou continuar a alimentar a polémica». Na direção ninguém pediu a sua saída. Segundo apurou o SOL a decisão de Cecília Meireles em concorrer contra Fernando Barbosa foi pessoal, depois de Assunção Cristas ter insistido na necessidade de uma lista única. Fernando Barbosa, o vencedor, queixou-se da interferência da organização no processo eleitoral, deixando implícito que a direção preferia Cecília Meireles na distrital. «A conversa era sempre no sentido de eu desistir, não a Cecília Meireles», confessou ao Observador.
Fernando Barbosa chegou a ameaçar com a impugnação das eleições por causa dos cadernos eleitorais. A sua candidatura denunciou dois problemas: a exclusão de militantes da Juventude Popular em Vila Nova de Gaia, bem como de militantes da Federação dos Trabalhadores Democrata-Cristãos (FTDC). O caso seguiu para a secretaria-geral com queixas de que o processo era dirigido a Fernando Barbosa. Por exemplo, os militantes da JP excluídos estavam todos recenseados em Gaia, concelho onde Barbosa tem o maior número de apoiantes. Mais, a Juventude Popular de Vila Nova de Gaia era a única estrutura da ‘jota’ que apoiava Barbosa. O resultado acabou por ter efeitos junto da direção nacional da JP.
A direção de Francisco Rodrigues dos Santos contestou a exclusão dos militantes da JP e deu instruções para a retirada dos militantes da eleição. O caso foi interpretado como uma «ingerência» que poderia afetar a autonomia da estrutura. A JP entendeu que o CDS não tinha poderes para excluir os militantes da ‘jota’ centrista.
Apesar de já não querer alimentar mais polémicas, Francisco Rodrigues dos Santos reconhece ao SOL que a situação deixou sequelas. Para o efeito, a JP pediu uma reunião à líder do CDS-PP, Assunção Cristas. O objetivo será o de demonstrar a abertura de um precedente sobre a autonomia da JP, com 30 anos de existência.
Em Lisboa o cenário foi o oposto ao do Porto, João Pereira Gonçalves concorreu sozinho para a distrital da capital, a um segundo mandato. No concelho de Lisboa, João Pereira Gonçalves obteve mais de 175 votos em 180 votantes. “Só se registaram três a quatro votos em branco”, afiançou ao SOL uma fonte da candidatura. O vereador alcançou uma votação acima dos 90 por cento.
JP quer lugar das ‘jotas’ no Protocolo
A Juventude Popular pediu uma audiência ao Presidente da República e Marcelo Rebelo de Sousa acedeu. Se o chefe de Estado recebe a JSD, também recebe a JP. Francisco Rodrigues dos Santos quis apresentar formalmente cumprimentos, mas também um pedido: o uso da magistratura de influência de Marcelo Rebelo de Sousa para que as juventudes partidárias sejam incluídas na lista oficial do protocolo de Estado.
«Neste momento existe um vazio, não há uma única associação de jovens que esteja lá vertida. E verificamos que até assessores da Assembleia da República e do próprio Governo encontram lá guarida. Acreditamos que isso pode ser corrigido», declarou Francisco Rodrigues dos Santos, citado pela Lusa, no final do encontro. O dirigente da JP defende que «30% da população tem até 30 anos». Por isso, as juventudes partidárias deviam ter direito a um lugar na lista de precedências do Estado em eventos oficiais. Ou seja, as gerações mais novas não estão devidamente representadas na lei que define a hierarquia do Estado português.
O líder da JP não conseguiu apontar ao SOL em que lugar se deveriam sentar as ‘jotas’ numa cerimónia oficial, mas sublinhou que «existe um vazio» geracional. Qualquer alteração à lei do protocolo de Estado terá de passar pelos partidos no Parlamento, mas Francisco Rodrigues dos Santos pediu a intervenção do chefe de Estado como mediador para assegurar que as ‘jotas’ ganhem o estatuto protocolar. O líder da JP apresentou ainda as suas propostas para combater o desemprego jovem e a lista de atividades da estrutura a Marcelo.