Numa época em que os jogadores de futebol têm dois ou três nomes e o Presidente da República é tratado simplesmente por Marcelo, não deixa de ser curioso o sucesso que o ex-menino traquinas vai fazendo no cargo em Belém. A última traquinice que correu mundo fez-me rir como já não o fazia há muito. Marcelo, sabendo da forma alarve como Donald Trump cumprimenta os seus convidados, tratou de o surpreender na chegada à Casa Branca, dando-lhe um enorme aperto de mão, seguido de um puxão para trás, fazendo Trump provar do próprio veneno, como alguém já o disse. O episódio não passa de um fait divers mas ver a cara de Marcelo Rebelo de Sousa depois de ter feito a ‘sacanagem’ ao Presidente americano é motivo de gozo, não para um país mas para todos aqueles que abominam Trump. O facto não passou despercebido e um pouco por todo o mundo as redes sociais encheram-se de comparações de cumprimentos presidenciais, em que o líder japonês, por exemplo, ia ficando sem mão depois de Trump o ter deixado em más… mãos. Quem conhece Marcelo não terá dificuldade em acreditar que pensou em tudo ao pormenor e só o riso traquina o denunciou.
O homem mais forte do mundo foi ridicularizado pelo Presidente de um pequeno país, que até possui o vinho com que foi brindada a independência americana: o da Madeira. Marcelo deu uma lição de história ao seu anfitrião, mandou recados sobre os direitos humanos, disse que Portugal foi o primeiro país a reconhecer os EUA como nação independente, apesar de ser o aliado mais antigo do Reino Unido, e fez Trump parecer um verdadeiro labrego em tudo: na postura, na roupa e no discurso.
Marcelo é uma estrela que tem enorme prazer de viver, adora ‘sacanagem’, mas, ao contrário de Mário Soares, gosta genuinamente do povo. E é por isso que o Presidente consegue ter tanta aceitação, já que as pessoas encontram no chefe máximo do país a confiança que não têm, a desenvoltura que gostariam de ter ou o à-vontade para lidar com as situações mais adversas.
Se já era um ícone português, Marcelo passou a ser um herói das redes sociais internacionais. Mas, no que diz respeito a este cantinho plantado à beira mar, o Presidente, com os poderes reduzidos que tem, consegue autênticos milagres. Não está em causa que fala quando devia estar calado, que se mete em assuntos que não lhe dizem respeito, mas isso são pormenores, atendendo a que em questões que não se medem por leis nem por poderes, Marcelo tem feito e muito, nomeadamente no caso dos incêndios, onde desempenhou um papel fundamental: exigiu justiça para as vítimas e seus familiares e deu conforto. Digamos que tem lutado pelas questões práticas em detrimento das questões filosóficas.
P. S. A praia de Marcelo não é seguramente o rock, pois enquanto escrevo esta crónica Marcelo assiste a um concerto dos Xutos & Pontapés de homenagem a Zé Pedro de fato e gravata e de perna cruzada, batendo umas tímidas palminhas. Apesar disso, na ‘tribuna presidencial’ onde estavam também Ferro Rodrigues, António Costa, Fernando Medina, entre outros, Marcelo sentia-se como peixinho na água, embora, por momentos, ligasse mais às conversas do que ao concerto. No final, no momento mais emocionante, subiu ao palco com a inexcedível ex-mulher de Zé Pedro, tendo dispensado o guarda-chuva e foi ovacionado pelos roqueiros, provando que sabe a letra da ‘Casinha’. Palavras para quê?