Alguns sinais de desanuviamento

Guerra comercial global prolongada é uma preocupação cada vez maior em Washington e Pequim. Tenta-se evitar chegar a um ponto de não retorno. Mas ameaças permanecem. 

A possibilidade de uma legislação que limite o investimento chinês em novas tecnologias nos EUA poderia significar um ponto de não retorno nas relações comerciais entre EUA e China. Essa é uma preocupação crescente nos dois países, que parecem procurar diminuir a tensão, reduzindo as barreiras.

No final da semana, o Presidente dos EUA revelou  que o reforço do controlo sobre o investimento chinês nos EUA deverá avançar, mas Donald Trump sinalizou uma abordagem menos agressiva, aceitando os  argumentos de que que tal legislação seria prejudicial para a economia. Trump preferiu a legislação em discussão no Congresso. «Esta legislação… vai aumentar a nossa capacidade para proteger os EUAde ameaças novas e envolventes que o investimento estrangeiro traz e ao mesmo tempo apoiar o ambiente forte e aberto ao investimento com que o nosso país está comprometido», afirmou. 

As limitações ao investimento chinês ou de outros países poderão passar por um comité  que escrutina as aquisições estrangeiras do ponto de vista dos riscos para a segurança nacional. A discussão decorre desde março, altura em que Trump pediu uma avaliação ao Departamento do Tesouro. Neste momento, o Presidente dos EUA  parece estará alinhado com o secretário do Tesouro, Steve Mnuchin, que prefere uma intervenção caso a caso do comité sobre o investimento estrangeiro nos EUA. Segundo Mnuchin, as restrições não se aplicarão apenas à China, «mas a todos os países que estão a tentar roubar a nossa tecnologia».

Do outro lado do Pacífico também parece haver desanuviamento, uma vez que a China reduziu as barreiras ao investimento estrangeiro nos setores de construção automóvel, seguros e outros, parte de um compromisso de maior abertura económica.

O documento da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma,  órgão máximo chinês de planificação económica, anuncia ainda a redução ou eliminação dos limites de propriedade estrangeira em empresas na área de construção aeronáutica e naval ou de redes elétricas.

No total, Pequim reduz de 63 para 48 os setores fechados ao investimento externo, mas mantém fechados os setores editorial, serviços noticiosos online, cinema ou televisão e restringe na exploração de gás e petróleo e ainda nas telecomunicações. O plano prevê um aumento gradual da participação estrangeira permitida, primeiro para 51% e depois 100%.

Washington, mas também a União Europeia, acusam a China de bloquear a aquisição de ativos no país, enquanto as empresas chinesas, nomeadamente estatais, têm adquirido negócios além-fronteiras em diversos setores.

Estas disputas fazem recear uma comercial que poderá levar a economia mundial a passar de crescimento para uma recessão. isto depois de terem entrado em vigor novas tarifas aduaneiras no valor de 3,3 mil milhões de dólares aplicadas pela UE a produtos importados dos EUA. Uma medida retaliatória das novas taxas alfandegárias impostas pelos EUA à importações de aço (25%) e alumínio (10%) de países da UE. 

Entretanto, Trump ameaçou reforçar tarifas sobre a importação de automóveis produzidos na UE, e a 6 de julho entram em vigor novas tarifas aduaneiras aplicadas pelos EUA à importação de bens oriundos da China, num montante de 34 mil milhões de dólares. 

Os líderes da UE, reunidos na madrugada de sexta-feira, prometeram apoio à resposta imediata às tarifas impostas pelos EUA e incentivo à mesma resposta em caso de «ações de clara natureza protecionista», como por exemplo taxas sobre automóveis.