O que levou Rui Rio a Luanda? Por que se prestou a ajudar o Presidente angolano a transmitir um recado para o Governo português? Ou, nas próprias palavras do líder do PSD, a um «ato simbólico» de João Lourenço? Por uma pequena chamada no fundo da primeira página do Jornal de Angola? A mesma capa que trazia a manchete «Adesão à Commonwealth tem apoio do Reino Unido»?
A passagem do líder social-democrata por Angola incluiu um encontro com José Eduardo dos Santos e elogios ao MPLA, a quem o líder social-democrata ofereceu os préstimos da experiência do PSD para a implementação do modelo autárquico.
Rio reconheceu em declarações aos jornalistas que ser recebido pelo Presidente João Lourenço trazia um sentido primordial que não era a do mero encontro entre o líder de um dos maiores partidos portugueses e o chefe de Estado de Angola, até porque nada na agenda do presidente do PSD tinha conteúdo palpável.
«Até o próprio ato de me receber é já de si um ato simbólico. Nesse sentido, e como é evidente, acho que é extraordinariamente positivo para ambos os países», explicou Rio em declarações à imprensa. Ou seja, Rio prestou-se à encenação: João Lourenço quis receber primeiro o líder da Oposição em Portugal, antes do primeiro-ministro António Costa visitar oficialmente Angola, visita que está apalavrada, mas não agendada – o Ministério das Relações Exteriores angolano afirmou ontem à Lusa que a visita poderá acontecer em agosto ou setembro.
O motivo do esfriar das relações entre Portugal e Angola está quase ultrapassado – a secretária de Estado da Justiça, Anabela Pedroso, afirmou em Luanda, na semana passada, que a certidão do processo já foi enviada para a Procuradoria-Geral da República de Angola e que os 49 volumes do processo seguiriam esta semana –, mas João Lourenço espera que tudo esteja concluído para normalizar o diálogo. E o timing será o dele e não o do Governo português, como se lê nas entrelinhas do convite a Rio.
«Estão criadas neste momento as condições, há uma estrada aberta para essa cooperação que tem já muitos anos, como todos sabemos. Tem os seus acidentes de percurso. Teve um acidente de percurso, não vale a pena escondê-lo, mas, uma vez ultrapassado, penso que temos é de trabalhar», afirmou o líder do PSD.
A visita de Rio ficou-se pelo encontro com o Presidente angolano e a ida ao MPLA para trocar dois dedos de conversa com o ex-Presidente que se prepara para encerrar a carreira política, quando se retirar da liderança do partido no congresso de 8 de setembro.
Assunção Cristas, que nasceu em Angola, esteve em Maio no país, a convite da Universidade Agostinho Neto para falar numa palestra sobre as mulheres na política. Aproveitou para contactos com os três principais partidos (MPLA, UNITA, CASA-CE).
Rio, em matéria de agenda político-partidária, manteve apenas a audiência presidencial, na Cidade Alta, e o encontro com o ainda líder do partido do Governo, sem qualquer diálogo agendado com a oposição. Nem mesmo com a UNITA, apesar de ambos os partidos fazerem parte da mesma organização partidária, a Internacional Democrata Centrista.
«Esta aproximação cada vez maior entre Portugal e Angola é muito importante e naquilo que possa ser o meu contributo para que isso possa acontecer, a disponibilidade é total», confessou Rio aos jornalistas. «Na Europa temos aliados e temos amigos, mas aqui é mais do que amigos, aqui até família temos», disse.