Rio levou reforços para o jantar do PSD

Presidente ‘laranja’ chegou discreto, chamou comissão política e teve de dar o primeiro passo no cumprimento a deputados.

Foi a segunda vez que Rui Rio se reuniu com a bancada do PSD desde que ocupa o lugar de presidente. Mais uma vez chegou discreto ao jantar de encerramento da sessão legislativa, no restaurante do Edifício Novo da Assembleia, mas levou reforços, na passada quarta-feira, dia 17: a sua comissão política: Elina Fraga, José Silvano, Salvador Malheiro, entre outros dirigentes.

Na mesa principal estavam 27 cadeiras para as duas equipas: membros da direção nacional e da bancada. Rio ficou ao lado de Fernando Negrão e, à sua frente. o protocolo colocou a vice-presidente da bancada Rubina Berardo.

Não foi fácil encontrar sorrisos largos entre os deputados, mas fez-se o esforço, até porque Rui Rio tinha acabado de dar instruções para o PSD dar a mão ao Governo no Código Laboral, através da abstenção. Água, sumo de laranja ou vinho branco ajudaram a desanuviar o clima, apesar da evidente distância entre o presidente ‘laranja’ e a bancada.

Sinal dos tempos, de distanciamento entre a direção do partido e a bancada, foi Rui Rio quem acabou por ter a iniciativa de cumprimentar alguns deputados, entre as tradicionais chamuças ou os rissóis de aperitivo. Acabou por ter dois dedos de conversa mais prolongados com deputados como Pedro Roque.

Elina Fraga, a ex-bastonária da Ordem dos Advogados, acabou por jogar pelo seguro e manteve-se quase sempre junto de outros dirigentes da comissão política, como José Silvano, o secretário-geral. A escolha de Elina Fraga como vice-presidente do partido provocou polémica. A ex-ministra e atual deputada do PSD, Paula Teixeira da Cruz, acusou Rio de «traição» quando a escolha foi anunciada.

No início do discurso, e talvez ciente da distância com a bancada, o presidente do  PSD puxou da memória para dizer que aquela casa também já tinha sido a sua. «Ainda há aqui alguns funcionários do meu tempo. Estava a fazer contas de cabeça de quando foi a última vez que estive nesta sala. A última vez que entrei nesta sala foi a 19 ou 20 de dezembro de 2001, depois das autárquicas, num jantar de Natal. Lembro-me de vir aqui com o Pedro Santana Lopes, ele tinha ganho Lisboa, eu tinha ganho o Porto, como o tempo passa.»

O discurso de Rui Rio foi longo, acabou por se aplaudido de pé por quem estava na sala, enquanto alguns críticos optavam pelo terraço do restaurante. Mesmo ao frio, assistiram à intervenção de mais de meia hora do presidente social-democrata. Hugo Soares, antecessor de Fernando Negrão, acabou por  entrar na sala pelas 21h10, a tempo de ouvir metade do discurso, sempre sob o olhar atento do staff de Rio. Mas nem todos os deputados compareceram como foi o caso de Sérgio Azevedo, envolvido na polémica operação Tutti Frutti, O próprio já fez saber que só cumprirá a Legislatura. Estará de saída.

A saúde foi o tema escolhido para dar duas ideias: o PS não está a cumprir a Constituição e permitir um  Serviço Nacional de Saúde «tendencialmente gratuito» e é preciso discutir »sem complexos ideológicos» a mudança de paradigma da Saúde. Mas quem o ouviu mais atentamente preferiu destacar que esteve melhor nos ataques ao antigo ministro da Economia Manuel Pinho.

«Teve oportunidade de vir ao Parlamento dizer se era verdade ou mentira e disse que não respondia. Dá-me ideia que, ao não responder, respondeu», declarou Rui Rio contra Manuel Pinho no primeiro aplauso da noite, num jantar com direito a sopa de beterraba, peixe, legumes e regada com vinhos Stanley, da Fundação Stanley Ho, o magnata do jogo de Macau. 

Fernando Negrão, teve o momento mais humorístico da noite, em jeito de agradecimento  «Foi uma sessão legislativa com muitas emoções. Quero agradecer aos deputados que me deram oportunidade de viver essa adrenalina e essas emoções». A frase arrancou risos na sala, tendo em conta que o líder da bancada parlamentar foi eleito com menos de 40 por cento dos votos e viu-se envolvido pelas polémicas em torno da desarticulação com a direção de Rui Rio. No final, Negrão prometeu dar mais atenção aos funcionários da bancada a partir de setembro, num jantar pensado ao pormenor para não haver cadeiras vazias.