Bruno de Carvalho: “Há de facto uma elite bafienta em Portugal. Por sorte ou por azar são quase todos do Sporting”

Em entrevista ao SOL o ex-presidente do Sporting fala sobre as restantes candidaturas, os ataques a Alcochete, a solidão e o caso do cuspo. Só não comenta o desempenho de Jesus como treinador. Diz que tem opiniões muito vincadas sobre a sociedade, “mas nunca quiseram conhecer o verdadeiro Bruno de Carvalho”.

Qual foi o pior ataque de todos, o que mais o magoou?

Houve duas coisas que me magoaram enquanto ser humano. O velho caso do cuspo, que eu achava que estava prestes a ser resolvido. Acho que uma das coisas mais reles é essa atitude.

De cuspir?

Sim. Custou-me um dia estar na tribuna a fumar o meu cigarro e ouvir uma criança de seis anos dizer: ‘O presidente está a cuspir, o presidente está a cuspir!’. Marcou-me. É um assunto que quero levar até às últimas consequências, porque tem a ver com os meus princípios e com os meus valores.

E a outra coisa?

Terem-me apontado o dedo num caso de crime – fosse [responsável] moral, fosse direto, fosse indireto. Podem dizer que falhei em muita coisa, podem dizer que fui impulsivo, que podia ter usado outras palavras, agora meterem-me em coisas reles como em cuspo e em crimes choca-me e magoa-me. Até porque sempre disse que se queriam um presidente mafioso não contassem comigo. Gosto muito de trabalhar, 24 sobre 24, e tenho noção de que ganhar é o objetivo, ser segundo é o primeiro dos últimos, mas não vale tudo para ganhar. Foram os dois momentos que me entristeceram mais a nível de calúnia e dos ataques que me foram feitos.

Não posso deixar de lhe fazer esta pergunta. Aqui há tempos, os membros demissionários do conselho diretivo escreveram um artigo de opinião e em resposta chamou-lhes ‘ratos vendidos’, ‘traidores’, ‘vendilhões do templo’ e ‘cobardes’. Noutro post do Facebook falou de uma ‘elite malcheirosa’, de ‘cretinos que não merecem o ar que respiram’. Acha que este tipo de linguagem é adequado ao presidente de um grande clube?

Mais uma vez você está a tirar tudo do contexto. Tudo. Esses membros abandonaram da seguinte forma o Sporting: telefonámos-lhes, a uns foi lido o comunicado, para outros seguiu por email, concordaram todos com o comunicado. Passada uma hora apresentaram, via email, a demissão. O meu tio-avô foi da Marinha, correto? Costuma-se dizer que quando um barco vai ao fundo, os primeiros a saltar são os ratos. Não acho que seja grave. Eu gosto das pessoas que chegam e dizem: ‘Quero ir embora por isto, isto e isto’. Não é aceitarem fazer um comunicado conjunto da direção e passada uma hora estarem a apresentar a sua demissão. Acho que o artigo deles é lamentável – que é coisa que você não fala – e acho que a minha resposta foi muito institucional.

Podia ter sido mais contundente?

Aí foi uma resposta altamente institucional. Quando os encontrar hei de lhes dizer na cara aquilo que realmente acho sobre eles e sobre o que fizeram durante cinco anos. Depois está a dizer que noutra ocasião…

Exato, depois da Assembleia Geral.

Mas isso é a minha ideia de Portugal. E não tenho medo nenhum de o dizer. Portugal tem uma elite bafienta. Aliás já ouvi isto em todo o mundo – já ouvi o Presidente da França, a chanceler da Alemanha, o presidente dos Estados Unidos dizer o mesmo. Há de facto uma elite bafienta em Portugal. Por sorte ou por azar são quase todos do Sporting. Acho que não tem mal nenhum dizer-se a verdade. Aliás estou farto de dizer que o Bruno de Carvalho é muito mais do que um homem do desporto. Podia falar sobre os erros que acho que as sociedades estão a cometer, dizer por exemplo que a crise financeira é uma consequência da crise de valores… Podia dizer-vos tanta coisa que vocês veriam o mundo de uma forma totalmente distinta se quisessem um dia ter conhecido de facto o Bruno de Carvalho. Nunca quiseram conhecer. Disse que eu sou polémico e gosto de ser polémico. Não. Eu sou genuíno, frontal, mas o melhor chavão é chamar polémico. Não gosto de começar guerras, mas estando lá dentro pago para não sair. Isso é verdade, mas não faz de mim um belicista. De facto vocês quiseram conhecer pouco a pessoa, que tem ideias muito concretas sobre a sociedade e para onde é que estamos a evoluir.

Leia a entrevista na íntegra no SOL deste sábado.