Os maiores bancos portugueses já estão a recuperar os lucros para os níveis atingidos antes da crise financeira, mantendo no primeiro semestre do ano a tendência que já verificava no passado – altura em que quatro maiores bancos a operarem no mercado português (BCP, BPI, Santander Totta e Caixa Geral de Depósitos) lucraram 684,8 milhões de euros, ou seja, quase 2 milhões por dia.
Um cenário bem diferente quando comparado com 2016, altura em que algumas das instituições financeiras apresentaram prejuízos, penalizando os resultados do setor na ordem dos 1200 milhões de euros e com o banco público a apresentar os maiores prejuízos da sua história, de 1.859 milhões de euros, o que representou um impacto significativo nos resultados do setor em 2016.
Menores custos de estrutura e aumento de comissões (ver texto ao lado) explicam, em grande parte, este crescimento dos resultados. Um desses casos é o BPI que, ainda esta semana, anunciou que passou de prejuízos (de 101,7 milhões de euro) a lucros de 366 milhões de euros nos primeiros seis meses do ano.
Trata-se de «um resultado muito bom», no entender do presidente executivo do banco, Pablo Forero, que destacou o lucro líquido em Portugal de 222,5 milhões de euros, bem acima dos 10,7 milhões de euros do primeiro semestre de 2017 na atividade doméstica. «Podemos olhar tranquilos para o futuro porque a equipa executiva está a alcançar os objetivos definidos há um ano», afirmou o responsável durante a apresentação dos resultados.
No entanto, do valor obtido no mercado nacional há que destacar 121,3 milhões de euros conseguidos com a venda de participações da Viacer (59,6 milhões de euros) e do BPI Gestão de Ativos e BPI GIF (61,8 milhões de euros).
Em relação às participações nos bancos africanos, o «BFA teve um contributo positivo de 136,3 milhões de euros (ao contrário das perdas de 115,6 milhões de euros do período homólogo de 2017), que inclui os impactos do reconhecimento da participação no BFA de acordo com as IAS 29 e da desvalorização do kwanza». Já o BCI contribuiu com 7,1 milhões de euros, diz o banco liderado por Pablo Forero.
O produto bancário recorrente em Portugal aumentou 8,3% em termos homólogos para 355,3 milhões de euros. Um resultado para o qual contribuiu o crescimento da margem financeira em 7,6% para 207,2 milhões de euros. Mas também uma subida de 9,4%, em termos homólogos, das receitas de comissões líquidas para 134,6 milhões de euros, «fruto de uma maior atividade comercial do BPI em todos os segmentos de negócio: comissões bancárias (+9,6%) e intermediação de seguros (+8,8%)».
A verdade é que as comissões vão subir ainda mais. A instituição financeira já revelou que vai acabar com a diferenciação das comissões na conta à ordem em função do património dos clientes, passando a cobrar os mesmos 15 euros trimestrais à generalidade dos clientes. Isto significa que, devido à alteração, há quem vá ver o valor do encargo triplicar.
Já os custos da estrutura recorrentes (o banco não divulga o valor absoluto) decresceram 3,7% para 214,3 milhões. Os custos com pessoal, excluindo os não recorrentes (como acordos de rescisões), baixaram 10%.
Lucro do BCP dispara
A instituição financeira agora liderada por Miguel Maya apresentou um resultado líquido de 150,6 milhões de euros no primeiro semestre, um crescimento de 67,5% face aos 89,9 milhões de euros registados no mesmo período do ano anterior. Este resultado deve-se, em grande parte, à evolução muito favorável do resultado da atividade em Portugal (contributo de 59,0 milhões de euros nos primeiros seis meses de 2018, comparando com 1,6 milhões de euros no mesmo período de 2017), assim como pelo aumento de 3,1% do resultado da atividade internacional (de 87,1 milhões de euros no primeiro semestre).
«Esta evolução beneficia dos desempenhos positivos das operações na Polónia e em Moçambique, não obstante o menor contributo do Banco Millennium Atlântico, influenciado pelo impacto negativo decorrente da aplicação da IAS 29», revela a instituição financeira.
As comissões líquidas atingiram 340,2 milhões de euros no primeiro semestre de 2018, o que representa um crescimento de 3% face aos 330,3 milhões de euros alcançados nos primeiros seis meses de 2017, «determinado essencialmente pelo desempenho favorável da atividade em Portugal, cujas comissões aumentaram 3,9%, mas também pelo contributo da atividade internacional, que registou uma subida de 1,1% face ao primeiro semestre de 2017, alicerçada na operação polaca».
Mas este número reflete o crescimento quer das comissões bancárias, quer das comissões relacionadas com os mercados financeiros que subiram 2,5% e 5,3% respetivamente.
Já os custos com o pessoal totalizaram os 281,8 milhões de euros no primeiro semestre de 2018, tendo aumentado 6,3% face ao montante apurado nos primeiros seis meses do ano anterior, induzidos pelo maior nível de custos suportados tanto na atividade em Portugal, como na atividade internacional. «Na atividade em Portugal, não obstante a diminuição de 152 colaboradores face a 30 de junho de 2017, os custos com o pessoal, excluindo o impacto dos itens específicos, registaram um aumento de 6,2% relativamente ao primeiro semestre de 2017, cifrando-se em 179,4 milhões de euros no mesmo período de 2018, evidenciando a decisão do conselho de administração do banco no sentido de terminar antecipadamente, com efeitos a partir de 30 de junho de 2017, o período de ajustamento temporário de rendimento que vigorou desde julho de 2014, na sequência do reembolso integral dos CoCos», justifica a instituição financeira.
Já o Santander ainda não detalhou os números referentes ao mercado nacional, mas quando anunciou, esta semana, um resultado de 3752 milhões de euros referiu que a operação portuguesa registou um lucro de 250 milhões de euros de janeiro a junho, um aumento de 6%, com um crescimento de receitas que ultrapassou as despesas.
Banco público regressa finalmente aos lucros
A Caixa Geral de Depósitos apresentou um resultado líquido de 194,1 milhões de euros no primeiro semestre do ano, o que representa uma forte evolução face aos aos prejuízos de 49,9 milhões de euros alcançados em junho de 2017.
O banco liderado por Paulo Macedo revelou que os resultados de serviços e comissões com uma evolução positiva de 9,6% para os 239,2 milhões de euros. Ao mesmo tempo, assistiu-se a uma visível redução de custos de estrutura. Depois do programa de redução de pessoal do ano passado, caíram 14,3% para 515,8 milhões.
A justificação para a melhoria das contas no primeiro semestre deve-se, sobretudo, à redução das provisões e imparidades, que afundaram 88,5% para 44,8 milhões de euros.
No entanto, houve um agravamento para mais do dobro das imparidades para crédito (subiram para 113 milhões), que foi compensado pelo recuo das provisões e imparidades para os outros ativos (como fundos de reestruturação), que passou de 343 milhões positivos para 68,2 milhões negativos.