Oito meses depois de ter sido detida pelas autoridades israelitas por pontapear e esbofetear dois soldados, Ahed Tamimi, de 17 anos, foi libertada este domingo. A jovem palestiniana transformou-se num símbolo da resistência palestiniana e alertou o mundo para as centenas de crianças indiscriminadamente detidas nas prisões israelitas por se oporem à expansão dos colonatos na Palestina. “A resistência deve continuar até que a ocupação termine”, disse Tamimi já depois de ter chegado à sua aldeia, Nabi Saleh, na Cisjordânia, em conferência de imprensa. “Todas as mulheres prisioneiras são fortes e quero agradecer a todas as que me apoiaram enquanto estive na prisão”.
A Amnistia Internacional não deixou de realçar o facto de centenas de crianças palestinianas estarem detidas nas prisões israelitas. “Centenas de crianças palestinianas continuam a enfrentar condições duras e de abuso no sistema penal israelita, que despreza os princípios de justiça e de tratamento de prisioneiros”, afirmou Saleh Higazi, chefe do gabinete da organização em Jerusalém. “A libertação de Ahed Tamimi não deve obscurecer a história familiar e contínua dos militares israelitas que usam políticas discriminatórias para prender crianças palestinianas”, diz, acrescentando ainda que “os tribunais militares arbitrários” são usados para “punir aqueles que desafiam a ocupação”. Organizações de direitos humanos afirmam que mais de 300 crianças encontram-se detidas, incluindo menores de dez anos.
Há oito meses, a 15 de dezembro, dois soldados israelitas fortemente armados passaram perto da casa de Tamimi, então com 16 anos, nos territórios ocupados da Cisjordânia, numa ação que os palestinianos consideram ser de provocação e intimidação. Sem medo, a jovem aproximou-se dos soldados e atingiu um deles com um pontapé e depois esbofeteou ambos. Entretanto, a mãe filmava tudo e as redes sociais rapidamente foram inundadas pelo vídeo. Tamimi transformou-se num ícone da resistência, algo que as autoridades israelitas não iriam permitir. Poucos dias depois foi detida e acusada de “agredir um soldado, ameaçar um soldado, interferir com um soldado no cumprimento do dever, incitar e atirar objectos numa pessoa ou propriedade”. Passou três meses detida até ser condenada a oito meses de prisão, já depois de ter assumido a culpa com um acordo, algo bastante comum.
Neste, a jovem palestiniana assumiu-se culpada de quatro acusações de agressão, em troca de oito meses de pena de prisão e do pagamento de uma indemnização de cinco mil shekels (1,437 euros).
O caso de Tamimi ganhou ainda mais protagonismo quando um vídeo de duas horas foi divulgado, pelo “Daily Beast”, em que Tamimi, algemada e sentada a uma mesa, é interrogada por dois militares israelitas. Com movimentos teatrais e ameaças à sua família, Tamimi recusou-se a responder às perguntas e provocações, dizendo apenas ser um direito seu. As autoridades chegaram inclusive a usar o vídeo do interrogatório para lhe negarem fiança e defenderem a continuação dos interrogatórios.
Demissão em protesto
Em reação à aprovação da lei que declara Israel como “Estado-nação do povo judeu” pelo parlamento israelita, o deputado árabe-israelita Zouheir Bahloul, de 67 anos, demitiu-se em protesto. “Demito-me do parlamento”, disse Bahloul. “Devo sentar-me na vedação? Deveria legitimar este parlamento destrutivo, racista e extremista?”, questionou.
O deputado foi um dos mais severos críticos da lei, afirmando, no canal televisivo Reshet, que esta “retira a população árabe do caminho da igualdade em Israel”. A lei foi aprovada a 19 de julho e torna o hebraico na principal língua nacional, ao mesmo tempo que considera os colonatos como “valor nacional”.