O anfitrião oficial era Miguel Albuquerque e o convidado com direito a honras era Rui Rio, mas boa parte das atenções da tradicional festa do PSD na Herdade do Chão da Lagoa, na Madeira, acabaram ontem viradas para o histórico Alberto João Jardim, que já não participava no convívio desde 2016.
De barraquinha em barraquinha – cumprindo o ritual da romaria social-democrata –, o antigo líder do governo regional distribuiu beijos e abraços, provocou risos e até cantou e dançou com um trio de músicos apetrechados com viola, acordeão e um rajão. Ao mesmo tempo, Alberto João ainda conseguiu responder a perguntas de jornalistas e de populares. E sobre o caso Robles, por exemplo, teve resposta imediata: “[O Bloco de Esquerda] é um partido de pequenos burgueses que não estão no PS e o PCP não quis”. Terminado o desfile pelas tasquinhas, Alberto João assistiu aos discursos na primeira fila e, para provar que enterrou o machado de guerra com Miguel Albuquerque, foi gritando várias vezes “eu só quero ver o Miguel a presidente”.
Para Rui Rio, a ida ao Chão da Lagoa foi uma estreia. E o líder do PSD levou uma missão especial na algibeira: animar os sociais-democratas locais. É que no próximo ano há eleições regionais e, por enquanto, as sondagens apontam para um empate entre PS e PSD. A este respeito, Rui Rio sublinhou que “em equipa que ganha não se mexe” e recordou que, em mais de 40 anos de poder social-democrata na região, a Madeira saiu sempre a ganhar. Culpa, apontou, de Alberto João Jardim. “Já imaginaram se, em vez de um, houvesse mais quatro ou cinco Alberto João por esse país fora, o que não era hoje Portugal face àquilo que é?”, perguntou.
Todo o foco na Madeira
O discurso de Rio, perante uma plateia com cerca de 20 mil pessoas, foi praticamente todo virado para a realidade regional. O líder do PSD criticou o valor das taxas de juro aplicadas pelo Estado à Madeira; falou do atual modelo do subsídio de mobilidade aérea com o Continente, que deveria ter sido revisto em 2016; e queixou-se do tratamento dado pela TAP aos passageiros insulares, com sucessivos cancelamentos.
Pelo meio, ainda teve tempo para gracejar a dizer que “não há líder do PSD que consiga chegar a primeiro-ministro de Portugal sem passar pelo Chão da Lagoa”. Por isso, acrescentou:_“a partir de hoje já tenho possibilidades de dizer que poderei ser primeiro-ministro”.
Um pouco mais tarde, de uma festa e sobre outra festa, Rui Rio ressalvou que a reentrada política do PSD se fará na Festa do Pontal, no Algarve, e prometeu novidades. Este ano, disse, a rentrée será “diferente” e a festa vai “regressar às origens”, sem adiantar mais detalhes.
Ao estilo madeirense
Antes de Rui Rio, Miguel Albuquerque, o anfitrião oficial, já tinha discursado. E se a festa na Herdade do Chão da Lagoa é tradição, não são menos tradição os discursos à moda do PSD Madeira. Nas palavras do líder do governo regional couberam críticas ao Continente, governado por “socialistas da trampa”, que “chegaram ao poder sem ganhar eleições”e impondo a mais alta carga fiscal dos últimos anos. “Há comboios a parar e os hospitais estão sem meios para tratar os doentes”, acusou Miguel Albuquerque, estendendo depois as críticas aos socialistas madeirenses, que “não passam de de uns agachados” ao governo de António Costa e uns “vendilhões da autonomia” que “tentam cantar para enganar os madeirenses” e procuram “chegar ao poder com a ajuda do governo da geringonça”.