Quatro anos depois do nascimento do Novo Banco, em resultado da queda do Banco Espírito Santo (BES), a instituição financeira continua a reconstruir-se, depois de ter levado a cabo um profundo plano de reestruturação. Mas já enfrenta os desafios do setor com um futuro definido, novos acionistas e nova gestão, mantendo a aposta tradicional: crédito às empresas.
Em quatro anos, o ativo do Novo Banco reduziu-se em 30%, ou seja, cerca de 21,5 mil milhões, mas ainda continua acima dos 50 mil milhões de euros. Já os depósitos aumentaram 16%. Feitas as contas, tem atualmente mais de quatro mil milhões de euros em relação ao que tinha na data da sua criação, atingindo os 28,6 mil milhões de euros, o que significa que vai recuperando aos poucos a confiança do mercado, principalmente no retalho.
O que é certo é a administração liderada por António Ramalho continua a investir na estratégia do antigo BES, ou seja, ser um banco de referência do tecido empresarial. E os números falam por si: o crédito às empresas continua a representar 64% da carteira, contrariando a tendência dos restantes segmentos do mercado, no entanto, ainda longe dos 70% que pesava em agosto de 2014. O crédito doméstico desceu 6,6 mil milhões de euros (uma queda de 19%), enquanto o crédito internacional registou uma maior redução em termos percentuais (menos 51%), o que se traduz em memos 3,8 mil milhões de euros.
Mas se, há quatro anos, a instituição financeira tinha uma carteira de crédito na ordem dos 41,7 mil milhões de euros – 7,4 mil milhões de euros para o mercado internacional e 34,2 mil milhões para o doméstico -, esta hoje registou uma redução de mais de 10 mil milhões de euros para 31,3 mil milhões – 3,6 mil milhões de euros para o mercado internacional e 27,7 mil milhões para o mercado doméstico.
Durante este período também se assistiu a uma limpeza do balanço de forma crescente. Em quatro anos foram constituídas provisões de 5,2 mil milhões de euros com especial incidência no último ano.
A verdade é que os principais sinais positivos começaram a verificar-se no final do primeiro trimestre deste ano com a instituição financeira a apresentar um lucro de 60,9 milhões de euros. Um ano antes, as perdas tinham sido as protagonistas, na ordem dos 130,9 milhões. Durante a apresentação de resultados, António Ramalho deixou uma garantia. «Estamos focados na recuperação sustentável e não nos lucros imediatos».
Mas é certo que o lucro da instituição financeira herdeira do BES deveu-se, em grande medida, a uma alteração contabilística: «a classificação da GNB Vida como atividade em descontinuação (51,2 milhões de euros) que é compensado com uma variação negativa em reservas de igual valor».
Estrutura emagrece
O plano de reestruturação do Novo Banco também tido um impacto nos custos operativos da instituição financeira. Estes reduziram-se em mais de 206 milhões de euros face a 2015 com uma redução de 30% da rede de balcões e colaboradores. Se em 2014, o banco agora liderado por António Ramalho contava com 674 balcões – 43 no mercado internacional e 631 em Portugal – atualmente conta com 473 agências, das quais 23 são no exterior e 448 são no mercado internacional. Isto significa uma redução de 200 balcões.
Esta tendência também é visível pelo número de colaboradores que, num espaço de quatro anos, passou de 7.887 para 5.449. Uma redução de mais de 2.400 trabalhadores.
O que é certo é que o redimensionamento do Novo Banco surgiu na sequência do acordo com a Comissão Europeia para venda da instituição portuguesa ao Lone Star em outubro passado. O fundo norte-americano teve de injetar mil milhões de euros para ficar com 75% do banco que nasceu da resolução do BES, em agosto de 2014 – com os restantes 25% a sobrarem para o Fundo de Resolução.
E depois dos prejuízos recorde de 1.400 milhões de euros em 2017, o Novo Banco ativou o mecanismo de capital contingente, o que implicou que o Fundo de Resolução tivesse de injetar 792 milhões de euros na instituição. Parte deste dinheiro veio do Tesouro público, que teve de emprestar 430 milhões ao Fundo. No entanto, se houver nova injeção capitais públicos, o banco vai ter de reduzir ainda mais a sua dimensão: ficou acordado entre o Governo e autoridades europeias o fecho de mais balcões (até 120) e a saída de mais trabalhadores (1.100), números que constam do documento em que Bruxelas fundamenta a aprovação da venda de 75% do Novo Banco ao fundo Lone Star.
Dia 3 de agosto de 2014: fim de um império
O Novo Banco surge depois do Banco de Portugal (BdP) ter tomado o controlo do Banco Espírito Santo (BES) após a apresentação de prejuízos históricos no valor 3,57 mil milhões de euros, o maior de sempre na história empresarial portuguesa. A instituição financeira começou a dar os primeiros passos depois de receber uma injeção de 4,9 mil milhões de euros do Fundo de Resolução.
Pela instituição financeira passaram três presidentes: Vítor Bento, que substituíra Ricardo Salgado no BES, aceitou ficar no Novo Banco, mas acabou por bater com a porta um mês depois. Seguiu-se Stock da Cunha, que liderou a instituição financeira até ao final de julho de 2016. Seguiu-se António Ramalho que continuam em funções até agora.
A primeira tentativa de venda ocorreu em dezembro do mesmo ano, mas acabou por ser cancelada um ano depois. Estavam em cima da mesa propostas da Fosun, Apollo e Anbang. Na altura, o BdP considerou que as três propostas vinculativas não eram satisfatórias e que o processo foi condicionado por importantes fatores de incerteza. Aacabou por ser contratado o ex-secretário de Estado do Governo de Passos Coelho, Sérgio Monteiro, pelo Fundo de Resolução para coordenar a equipa de Carlos Costa que estava a vender o Novo Banco.
Depois de vários anúncios de interesse – nomeadamente do BCP e do BPI, que concorriam em consórcio, assim como do grupo chinês Misheng Banking -, o Banco de Portugal escolheu o fundo Lone Star e o acordo foi assinado em outubro do ano passado. A equipa executiva liderada por António Ramalho manteve-se por mais um mandato, a terminar em 2020.