Um autocarro com dezenas de pessoas que passava pelo mercado de Dahyan, na província de Saada, no Iémen, foi bombardeado esta quinta-feira pelas forças aéreas da coligação liderada pela Arábia Saudita. O ministro da Saúde do governo houthi disse que pelo menos 43 pessoas morreram no ataque, com a maioria a ser crianças menores de 10 anos.
Confrontada com o resultado do bombardeamento, a coligação da Arábia Saudita limitou-se a dizer que as suas ações foram "legítimas" e negou ter atacado deliberadamente civis. O porta-voz da coligação, coronel Turki al-Malki, afirmou que o ataque foi "uma ação militar legítima conduzida em conformidade com a lei internacional humanitária".
A UNICEF foi rápida a condenar o ataque, com o diretor regional da agência para o Médio Oriente e Norte de África, Geert Cappelaere, a dizer que "chega de desculpas!". "Quantas mais crianças inocentes precisa o mundo para que se acabe com esta cruel guerra no Iémen?", questionou.
Várias organizações de direitos humanos com elementos no país garantem que a coligação tem bombardeado mercados, escolas, hospitais e áreas residenciais numa estratégia de punição dos civis que apoiam o governo houthi. "Isto tem de parar, não é possível continuarmos a trabalhar com todos estes ataques aéreos", disse Jolien Veldwijk, diretora da organização humanitária Care International, à Al Jazeera. "Os aviões ainda estão no ar e esperamos mais ataques".
A coligação saudita realizou só no mês de junho 258 bombardeamentos no país, com quase um terço a visarem alvos não militares.
Na semana passada 55 civis morreram e outros 170 ficaram feridos depois de um forte bombardeamento no porto de Hudaydah, sob controlo dos rebeldes houthis. A coligação saudita negou qualquer responsabilidade pelo ataque e acusou os rebeldes de terem bombardeado a zona com fogo de morteiro.
O Comité Internacional da Cruz Vermelha disse à BBC que um dos hospitais que apoia em Saada recebeu dúzias de vítimas depois do ataque. Johannes Bruwer, chefe da delegação da organização no Iémen, escreveu na rede social Twitter que muitas pessoas morreram e que "muitas mais ficaram feridas, incluindo menores de 10 anos". Para responder ao afluxo súbito de pacientes, Bruwer anunciou que a Cruz Vermelha avançou com preparativos para abastecer o hospital com mais material médico. "Segundo a lei internacional humanitária, os civis devem ser protegidos durante o conflito", afirmou a Cruz Vermelha em comunicado.
O conflito no Iémen começou em 2015, quando os rebeldes houthis tomaram o controlo de grande parte do país e obrigaram o então presidente Abdrabbuh Mansour Hadi a fugir do Iémen, refugiando-se na Arábia Saudita. Com o Irão a apoiar os houthis, Ríade começou a apoiar militarmente o presidente deposto, tendo formado uma coligação militar com os Emirados Árabes Unidos.
A guerra civil no Iémen é mais uma consequência do choque e disputa de hegemonia regional entre o Irão xiita e a Arábia Saudita sunita, apoiada pelos Estados Unidos, e causou até ao momento a morte a mais de dez mil pessoas, a grande maioria civis, e 55 mil feridos nos combates, segundo dados das Nações Unidas. Neste momento, mais de 22 milhões de pessoas precisam urgentemente de ajuda humanitária, com surtos de cólera a surgirem em várias partes do país.