Como olha para a situação do PSD seis meses depois da eleição de Rui Rio?
O PSD não está de facto tranquilo. Não está tranquilo porque não ocupou ainda o lugar que acha que deve ocupar. Não tem possibilidade, nesta altura, de ser o centro da atração da vida política. O PSD como instituição está a sentir-se um pouco marginalizado. Por várias razões. A mais importante é que o PS ocupa o espaço que também é do PSD.
A que se deve essa falta de tranquilidade?
Esta intranquilidade surge porque o partido não conseguiu ainda afirmar um caminho. Não conseguiu ainda encontrar uma oportunidade de afirmação. Não conseguiu ainda desmontar tudo aquilo que está à volta deste governo do PS e, portanto, sente-se mal.
Como se ultrapassam estes problemas internos?
Isto só se resolve com uma liderança muito afirmativa e muito forte e que as pessoas entendam. O PSD é um partido que reage muito a isto. Não tolera lideranças fracas. Opartido só consegue ganhar quando se convence que a liderança é forte e quer construir uma alternativa de governo. Quando há uma liderança que entusiasma as pessoas.
Compreende este tipo de entrevistas a pedir uma nova liderança?
Quando vi aquela entrevista, o meu comentário, para mim mesmo, foi: abriu a caça ao Rui Rio. O Pedro Santana Lopes, o Pedro Duarte…
O novo partido de Santana Lopes pode ter impacto no PSD?
Pode, porque os resultados do PSD já são tão fracos que 4% ou 5% são significativos. A mim a direita não me preocupa muito. Preocupa-me o centro. Não estou nada preocupado com o CDS. Mas aquilo que vai do CDS até ao Partido Socialista é o campo de intervenção do PSD e é nesse espaço que o partido tem de se afirmar. Se mesmo dentro desse espaço há fissuras então a questão aumenta de intensidade. A situação é muito difícil para o PSD. É muito difícil lutar contra este xadrez politico. Era preciso, na verdade, uma atitude de um líder que conseguisse galvanizar as pessoas, juntar gente à volta dele e avançar com uma ideia nova para ir buscar pessoas a outro lado.
E isso Rui Rio não está a conseguir.
Não está a conseguir. O problema é este: quais são as alternativas que ele coloca? São alternativas que acabam por ser bastante frouxas na sua atuação prática. Há campos de atuação que são essenciais. OPSD devia, nesta altura, ser o grande defensor do Serviço Nacional de Saúde. Tentar fazer uma discussão aprofundada sobre o SNS. Em relação à justiça a mesma coisa. A situação é difícil para Rui Rio. Vai-se mantendo porque também não há alternativa. Pode alguém estar a marcar lugar, mas não estão propriamente ainda a candidatar-se contra. Estão todos a marcar espaço.
Concorda com a ideia de que Rui Rio está muito próximo do governo socialista?
Ele não começou mal ao abrir a porta a acordos com o PS, mas precisava de dizer: ‘o nosso caminho é este, a nossa linha divisória é esta, os senhores se passarem dessa linha divisória continuam com a esquerda, se não passarem podem vir aproximar-se de nós. Na certeza porém de que nunca integraremos um governo do PS´. Era isso que ele devia ter dito desde o inicio. Em relação ao orçamento a mesma coisa. Isso era condicionar as alianças possíveis do PS com toda aquela rapaziada da esquerda.
Já devia ter deixado claro que o PSD não quer entrar num governo de António Costa?
Isso é fundamental.