Rui Rio é um homem estimável. É certo que foi um desastre a escolher a sua equipa.
E que tem feito muitas coisas erradas – a começar pela visita a António Costa depois de assumir a liderança do partido, em vez de se encontrar com Assunção Cristas, que era a sua aliada (e interlocutora) natural.
E que os desencontros com o seu grupo parlamentar dão uma imagem péssima de desorganização.
E que não tem conseguido apresentar propostas alternativas: a única que apresentou com verdadeiro fôlego, relacionada com o incremento da natalidade, foi logo esquecida.
E que não sabe (ou não quer) aproveitar os erros do Governo ou dos partidos que o apoiam, como se viu no caso Robles.
Mas muitos ataques que lhe fazem são injustos.
Dizem que aparece pouco – mas não vejo isso como um defeito, pois tem a vantagem de não banalizar as aparições públicas.
Em geral, os líderes de oposição falam por tudo e por nada, tratam as questões importantes e as insignificantes do mesmo modo, criticam por criticar.
Com Rio isso não acontece.
É discreto e contido.
Além disso, é pessoalmente sério, intelectualmente honesto e aparentemente incorruptível.
Nos tempos que correm, isto já não é pouco.
Contudo, sendo um homem com notórias qualidades, Rui Rio está no lugar errado.
Por três razões evidentes.
Primeiro, porque não conseguiu ser uma figura nacional.
Depois, porque não tem o carisma que o lugar exige.
Finalmente, porque nada o distingue do PS.
Vamos ao primeiro ponto: não ser uma figura nacional.
O facto indisfarçável é que Rui Rio é visto em boa parte do país como um homem da ‘província’.
Ele afirmou-se politicamente através da luta contra o centralismo, contra a hegemonia de Lisboa, e até por isso é-lhe difícil afirmar-se na capital.
Nessa luta pelo Porto, Rui Rio foi bom; mas raramente os líderes regionais conseguem tornar-se personalidades nacionais.
Rio será sempre visto a Sul do Mondego como um intruso, como alguém que representa o Norte e não o conjunto do país.
Ora, para um partido que se pretende nacional, isso é uma gravíssima limitação.
Depois, há a falta de carisma.Sendo o PSD um partido ideologicamente muito indefinido, precisa de um líder forte.
Não tendo história, nem ideologia – ao contrário do PS ou do PCP -, a capacidade de ação e de atração de eleitores do PSD depende muito do carisma do líder.
Os grandes momentos do partido foram com Sá Carneiro e Cavaco Silva.
Ora, Rui Rio não tem o magnetismo de Sá Carneiro nem a autoridade de Cavaco.
Nem sequer tem a capacidade aglutinadora de Durão Barroso ou Passos Coelho.
Por isso, não consegue unir o PSD nem atrair votos.
Finalmente, há a questão ideológica. Nos dias de hoje, verifica-se que os políticos vencedores são aqueles que têm um discurso claro, distintivo, afirmativo, e não os que se refugiam atrás de afirmações politicamente neutras.
Ora, Rui Rio não tem um discurso claro do ponto de vista político.
Não tem nada que o distinga verdadeiramente da esquerda: nem na economia, nem na cultura, nem nas ‘causas fraturantes’.
Entre a esquerda e a direita, Rio não é carne nem peixe.
Mostra-se mesmo mais próximo do PS do que do CDS.
Sendo assim, por que razão as pessoas iriam querer trocar António Costa por ele?
Que vantagens tem Rui Rio sobre António Costa?
Temos assim que, por razões ideológicas, por razões pessoais e até por razões geográficas que não conseguiu ultrapassar, Rui Rio não é o líder de que o PSD precisa.
Não conseguiu distinguir-se do PS, não mostrou carisma para mobilizar os militantes e não se afirmou na capital do país.
Sendo um homem com qualidades, não tem nada que leve as pessoas a votar nele.
Os mais à direita, que votam por razões ideológicas, tenderão a votar no CDS.
E os que votam pragmaticamente, serão levados a votar no PS.
O PSD está ensanduichado – e Rui Rio não tem características para o tirar do aperto em que o meteu.
P.S. – Todos apreciamos a generosidade de Marcelo Rebelo de Sousa ao passar parte das férias nas áreas afetadas pelos incêndios do ano passado. Mas o Presidente tem de cuidar muitíssimo mais das suas intervenções. No último sábado, falou sucessivamente ao telefone para dois canais de TV, dizendo aproximadamente o mesmo. Ora, o PR. não pode falar duas vezes a dizer a mesma coisa, para satisfazer duas estações televisivas. Há uma dignidade presidencial que se perde. E nessa conversa disse que o país tinha aprendido, que o ataque ao incêndio de Monchique fora «brutal» – e deu a situação como praticamente controlada. Ora, 96 horas depois a situação continuava sem controlo e o alarme era enorme. O Presidente da República não pode falar com esta ligeireza e leviandade em assuntos tão sérios.