Os cerca de 550 militares da GNR que este verão passaram a integrar o Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro (GIPS) – que, entre outras missões, se ocupa do combate aos incêndios florestais – só tiveram seis semanas de formação. O curso, apurou o SOL junto de várias fontes da GNR, durou metade do tempo que duraram os anteriores e o ‘encurtamento’ teve a ver com «pressões» do Governo para que os militares estivessem no terreno a tempo do início da época de fogos. Entretanto, bombeiros e especialistas avisam que seis semanas não é suficiente para garantir formação adequada numa área complexa como os incêndios florestais.
Atualmente, o GIPS conta com 1062 militares, mas metade dos elementos só entrou ao serviço em meados de maio. O encerramento do último curso, o sétimo desde que o grupo foi criado, em 2006, decorreu no quartel da GNR da Pontinha e foi presidido por António Costa. Desde os grandes incêndios do ano passado que o primeiro-ministro insistiu no reforço destas equipas da GNR, que este verão, e pela primeira vez, estão presentes em todos os distritos do Continente e também na Madeira. A aposta veio no seguimento das recomendações da Comissão Técnica Independente nomeada pelo Parlamento para estudar os fogos de junho e de outubro, que apontaram para a necessidade de uma maior profissionalização de quem integra os dispositivos de combate aos incêndios. Além de o Governo ter contratado mais elementos para o GIPS, este ano há outra novidade: os militares deixaram de atuar somente ao nível do ataque inicial (primeiros 90 minutos da ocorrência), passando também a poder participar no ataque estendido.
Contudo, e apesar do aumento da participação e da responsabilidade no teatro de operações, o último curso do GIPS foi mais breve: se os anteriores duraram mais de três meses, este durou apenas seis semanas. Foi ministrado na escola da GNR da Figueira da Foz e englobou ainda, segundo explicou o Comando-Geral da Guarda ao SOL, outras quatro semanas de estágio em Centros de Meios Aéreos. Mas fontes não oficiais garantem que o estágio durou apenas «três períodos de quatro dias cada um». As mesmas fontes acrescentam que houve «palestras» com bombeiros e a Proteção Civil, mas toda a formação foi ministrada por formadores internos, da GNR – ao contrário de outras edições, em que houve aulas na Escola Nacional de Bombeiros.
A rapidez do curso, a que se candidataram 698 militares, deixa bombeiros e especialistas em incêndios apreensivos. «Sete semanas não chega para formar ninguém nem para fazer uma boa aprendizagem sobre o que é o comportamento de um incêndio florestal», considera o presidente da Liga de Bombeiros, Jaime Marta Soares. Também o presidente do Centro de Estudos e Intervenção em Proteção Civil (CEIPC) considera o tempo de formação do GIPS «completamente insuficiente». «E é até contraditório: nos últimos anos, tem-se afirmado que os bombeiros precisam de mais formação, e tem-se aumentado a sua formação. Mas depois são dados cursos ao GIPS com esta velocidade», aponta Duarte Caldeira. Já Domingos Xavier Viegas, da Universidade de Coimbra, prefere dar o benefício da dúvida e recorda que os militares, quando ingressam no grupo, já têm «uma formação base, militar». Mas o presidente do CEIPC avisa que «deter uma boa preparação física, decorrente da atividade de militar, não é suficiente para estar habilitado para o combate a incêndios». Seja como for, um bombeiro voluntário demora mais tempo a formar-se que um militar do GIPS. Para ingressar num corpo de bombeiros, são precisas 400 horas de formação – numa primeira fase, 250 horas, a que se segue um estágio de seis meses e, numa segunda fase, 150 horas de especialização, seguidas de outro estágio. No total, um voluntário precisa de entre nove meses a um ano até poder ir para o terreno, sendo que só recebe dinheiro na época de fogos. Este verão, o pagamento está fixado em cerca de 50 euros por cada período de 24 horas trabalhadas – o que perfaz pouco mais de dois euros por hora. Já um militar do GIPS ganha mais.
Além do salário de GNR (variável consoante o posto que ocupe, tratando-se de um guarda em início de carreira, o ordenado base é de 789,54 euros), os militares ainda recebem dois subsídios: o suplemento das forças e serviços de segurança (20% sobre o ordenado base) e 283 euros do suplemento de batalhão. Contas feitas, um militar do GIPS em início de carreira na GNR ganha, no mínimo, cerca de 1200 euros – quer esteja, ou não, a combater incêndios. E o ordenado mantém-se no inverno, porque o GIPS ocupa-se de outras missões, como busca e salvamento e outras intervenções de proteção e socorro. O Comando-Geral da GNR não comentou a duração do curso.