O líder do PSD, Rui Rio, está de férias no norte do País, mas o partido parece-lhe não lhe dar descanso. Entre os sociais-democratas cresce a insatisfação interna com a estratégia do presidente do partido e a mais recente polémica é a da reforma da lei de bases da Saúde que o líder quer levar a discussão no conselho nacional do próximo dia 12.
A última reunião da comissão política de 18 de julho foi tensa, com discussão acesa sobre o caminho a seguir pelo partido, mas o vice-presidente social-democrata, David Justino, nega e devolve as críticas a quem fala anonimamente sobre a atual direção: «Divergências existem sempre. Qualquer partido tem sempre divergências. Mas também tem de haver alguma disciplina e, acima de tudo, algum bom senso. O problema aqui é saber quem é que anda a fazer de muleta ao Governo? Com este tipo de coisas, o Governo esfrega as mãos. E portanto, quando me dizem que é a direção que quer servir de muleta ao PS. Não é nada. São estas pessoas que andam a servir de muleta ao Governo. É tão simples quanto isso. Estão a facilitar a vida ao Governo, é tão simples quanto isso!»
Segundo apurou o SOL a proposta para a Saúde não vai votos no conselho nacional no próximo dia 12. Será feita apenas uma discussão do documento. Um sinal de que Rio não quer arriscar e acrescentar uma frente de batalha com o partido. Na prática, a direção dos sociais-democratas levará a debate um documento orientador para o setor para evitar novas divergências. Tem havido queixas de que o trabalho do conselho de estratégico nacional não é discutido nos órgãos internos do partido e, por isso, a solução foi remeter o pacote da Saúde para o conselho nacional que se realiza nas Caldas da Rainha. Será um teste à unidade do partido e à direção de Rio.
Na comissão política do passado dia 18 houve quem atacasse a proposta por abrir a porta à privatização da Saúde, segundo o Público. Uma ideia que deverá ser contrariada no documento que aponta para o Serviço Nacional de Saúde como o elemento central do setor, apurou o SOL.
A 18 de julho, Rio fez dois discursos aos deputados da bancada social-democrata no jantar de despedida da sessão legislativa: um a defender um debate «sem complexos ideológicos» sobre a Saúde, outro a atirar responsabilidades ao PS por não está a cumprir a Constituição e permitir um Serviço Nacional de Saúde «tendencialmente gratuito». Mas, lançou a frase que pode servir para aplacar as críticas internas no partido sobre o perigo de se defender a privatização do setor: «O debate não é se é público ou privado, é se cumpre a Constituição da República».
Na moção global estratégica de Rio, o líder do PSD já aponta pistas sobre o que defende para a Saúde. «De pouco nos serve ter um SNS público e tendencialmente gratuito se ele não se integrar num SNS que incentive a cooperação inteligente entre os diferentes setores (público, solidário e privado), que promova os estilos de vida saudáveis, que previna a doença em vez de ter de a combater em fase avançada e quantas vezes irreversível». Dito de outra forma: Rio não defende a estatização da Saúde, mas a coordenação entre o setor privado, público e social. Ou seja, a versão que irá a debate será uma espécie de guião para regulamentar a relação entre os três pilares do setor. Resta saber se convence o conselho nacional. Um dos conselheiros ouvidos pelo SOL sob anonimato considerou que a agenda do encontro é demasiado vasta para se discutir com «seriedade e profundidade». Por outro lado, há quem lembre que ainda nem recebeu a convocatória nem as propostas de alteração de regulamentos internos. De facto, o grupo de trabalho criado a partir do último congresso do partido para estudar as alterações estatutárias só volta a reunir no próximo dia 27. Até lá está tudo parado, leia-se a banhos.
A direção de Rui Rio tem aconselhado o líder a manter o rumo, insistindo que as críticas anónimas, bem com o posicionamento de Pedro Duarte para a liderança fazem parte da silly season.
Mas, se é certo que Rui Rio deverá sobreviver ao debate do conselho nacional do partido, na direção há quem reconheça que existem «pedras na engrenagem» colocadas a quem foi eleito legitimamente há seis meses.
No PSD há quem não perdoe à direção de Rui Rio ter esperado tantos dias para falar sobre o maior incêndio da Europa em 2018, em Monchique. De facto, os sociais-democratas só reagiram oficialmente uma semana depois do incêndio ter deflagrado. David Justino acusou o Governo de «soberba», na gestão da estratégia de combate aos incêndios. E fê-lo com base na informação disponível, prometendo pedir relatórios e a fita do tempo dos acontecimentos em Monchique que mobilizaram mais de mil operacionais no terreno e muitos meios aéreos.
No conselho nacional de 12 de setembro também não se preveem facilidades para Rui Rio a outros níveis. Fontes sociais-democratas, ouvidas pelo SOL , sublinham que a direção nada fez para travar a saída de Santana Lopes do PSD. O novo partido do ex-primeiro-ministro pode «roubar 3 a 4 por cento dos votos» aos sociais-democratas nas eleições europeias de maio de 2019, confidenciou ao SOL um antigo dirigente, temendo uma erosão eleitoral.
A alteração dos estatutos também pode redundar numa nova frente de divergência. Um dos proponentes das alterações de estatutos é o antigo líder da JSD, Pedro Rodrigues. Que avança a possibilidade de se votar nas eleições internas sem ter o pagamento de quotas em dia. A ideia também não agrada a todos. «Não concordo» afiança ao SOL um conselheiro nacional para quem os direitos dos militantes resultam, em boa parte, do pagamento de quotas, sobretudo numa altura de dificuldades financeiras.