Os líderes parlamentares estiveram reunidos hoje, durante pouco mais de meia hora, para discutir a possibilidade de se convocar uma comissão permanente extraordinária para esta semana, com o objetivo de debater os problemas da ferrovia em Portugal. A proposta do CDS-PP acabou por ser rejeitada pela esquerda, contando apenas com o apoio do PSD.
A apreciação do requerimento dos centristas – que incluía um pedido para ouvir o ministro do Planeamento e das Infra-estruturas, Pedro Marques, sobre a situação da ferrovia no parlamento – foi o único ponto discutido na reunião.
No final da conferência de líderes, o deputado do CDS Telmo Correia lamentou a decisão que considerou ser “um erro”. “Em nome do CDS, tenho a lamentar que não tenha sido possível marcar esta reunião, que queríamos que fosse já esta semana, apesar das diligências que tivemos e das exigências que fizemos”, afirmou.
Para Telmo Correia, a situação da ferrovia em Portugal “é um problema que tem vindo a tornar-se numa situação insustentável para milhares e milhares de portugueses utilizadores da ferrovia que vêem os comboios suprimidos, atrasados e alterados”. “Há certas linhas, como a do Oeste, que estão num caos absoluto”, acrescentou.
O requerimento dos centristas teve apenas o voto favorável do PSD. O líder da bancada parlamentar dos sociais-democratas, Fernando Negrão, defendeu a necessidade de “uma reunião para discutir exclusivamente” o problema, uma vez que “as medidas do governo” não ajudam a reverter a situação. “Com o desinvestimento na ferrovia e com as consequências que isso tem tido na qualidade de vida da população, estamos a caminhar para a destruição de uma empresa muito importante, como é a CP”, alertou.
Do lado da esquerda, a opinião é comum: reconhecem que existem problemas graves na ferrovia, mas não concordam que seja marcada uma reunião já esta semana. E deixam duras críticas ao CDS.
Em representação do PS, Pedro Delgado Alves entrou ao ataque e recomendou ao CDS “algum pudor na forma como abordam” este tema, tendo em conta as “responsabilidades que exerceu quando sufragou a redução do material circulante, quando sufragou a falta de investimento na biética e quando sufragou precisamente a redução de trabalhadores quer na CP quer na EMEFE”.
O Bloco de Esquerda, pela voz do líder da bancada, Pedro Filipe Soares, lembrou que desde o início da legislatura apresentou propostas para que “o investimento na ferrovia e na manutenção do material circulante fosse feita atempadamente”. “Curiosamente são as forças de oposição a essas intenções de investimento na ferrovia que hoje se vêm pronunciar”, recordou.
Numa referência às declarações do eurodeputado Nuno Melo na passada terça-feira, Pedro Filipe Soares afirmou que, no fundo, os centristas querem seguir o caminho “das concessões ou da privatização”. “É o negócio que está a imperar nas intenções que o CDS traz para o debate político”, defendeu.
Já João Oliveira, líder parlamentar do PCP, defendeu que “os problemas da ferrovia nacional são sérios e atingem muitos milhares de portugueses”. Contudo, referiu que não devem ser “discutidos à pressa” e que merecem ser debatidos “convenientemente e de forma aprofundada”.
O comunista acusou o CDS de “andar agora a esbracejar” apesar de estas falhas existirem “há muito tempo”. “É natural que andem a tentar sacudir a água do capote em relação às suas próprias responsabilidades”, ironizou.
Também Heloísa Apolónia, do PEV, lembrou que a CP tem sido uma das bandeiras do partido Os Verdes “ao longo de várias legislaturas”. A deputada criticou o CDS – “que acordou agora para esta situação” – e afirmou que a esquerda quer encontrar soluções para os problemas da CP, mas não forçosamente esta semana.
O tema da ferrovia vai ser debatido no dia 6 de setembro, quando está marcada uma reunião da comissão permanente.
Ontem, o porta-voz da conferência de líderes, o social-democrata Duarte Pacheco, adiantou aos jornalistas que o governo estará presente na reunião e “enviará informação prévia para que os deputados preparem o debate” sobre a ferrovia.
O secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, que esteve presente na conferência de líderes de ontem, assegurou que o governo está disponível para, na pessoa de Pedro Marques, ministro do Planeamento e das Infra-estruturas, estar no parlamento na data que a conferência de líderes entender.