A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDR-C) anunciou esta quinta-feira que já enviou ao Ministério Público (MP) 21 processos na sequência das suspeitas de fraude na reconstrução das casas destruídas pelos incêndios de Pedrógão Grande, no ano passado.
“Foram entregues ao MP todos os processos que na reportagem da Visão e da TVI lançavam suspeitas (…) bem como todos os processos do Revita”, revelou Ana Abrunhosa, presidente da CCDR-C, em declarações à Lusa.
“Estamos a falar de 21 processos”, completou a responsável.
Ana Abrunhosa afirmou ainda que “não tem dúvidas” acerca dos procedimentos formais utilizados nos processos. No entanto, considerou era necessário facultá-los ao MP, devido às suspeitas denunciadas pelos órgãos de comunicação social e para a entidade investigar “se alguma coisa correu mal e onde correu mal”.
Contudo, a presidente da comissão achou "muito estranho" que as denúncias só tenham começado a aparecer quase um ano depois dos incêndios terem deflagrado: “Acho tudo isto surrealista”.
“Acho muito estranho que pessoas com responsabilidades políticas, eleitos locais, venham dizer que já sabiam”, acrescentou, relembrando que quando vários governantes, como o Presidente da República, se deslocaram até Pedrógão Grande não foram feitas quaisquer denúncias.
Por fim, a presidente disse que é triste que estas alegadas fraudes possam ter prejudicado quem realmente precisa de ajuda para recuperar: “Isto é mais grave porque coloca em causa a generosidade dos portugueses, que é absolutamente essencial, porque ainda há muita gente a precisar. Quem sai prejudicado não são as câmaras, não é a CCDR, não é o governo, são os portugueses que precisam de ajuda”.
MP ainda não constitui arguidos no inquérito
No mês passado, o MP abriu um inquérito que visa investigar suspeitas de fraude na reconstrução das casas afetadas pelos incêndios de Pedrógão Grande, em 2017. As suspeitas foram denunciadas em julho pela revista “Visão”. Na passada quarta-feira, a “TVI” voltou ao assunto, tendo transmitido uma reportagem que falava em várias suspeitas de desvio de verbas para a reconstrução das casas. No entanto, ainda não foram constituídos arguidos. A informação foi confirmada por uma fonte oficial ao jorna “SOL”.
A mesma fonte disse ainda que a Provedora de Justiça está atenta ao caso, tendo decidido fazer o “acompanhamento integrado de problemas, já identificados ou que venham a ser conhecidos, relacionados com a reconstrução das áreas afetadas pelos incêndios e com apoio às populações”.
O conselho responsável por gerir o Fundo Revita – responsável por gerir o dinheiro de apoio do Estado – disse ao “SOL” que já pediu à comissão técnica “a avaliação e informação” e um “cabal esclarecimento” sobre as situações denunciadas.
O incêndio, que deflagrou em junho do ano passado, provocou 66 vítimas mortais e mais de 250 feridos.
No total, as chamas destruíram 265 casas de primeiras habitação no concelho de Pedrógão Grande. Para ajudar a reconstruir essas habitações foram angariados cerca de dez milhões de euros. Algumas entidades contribuíram com dinheiro e outras disponibilizaram materiais de construção, tendo-se deslocado até ao terreno ajudar a reabilitar os imóveis.