Conhecido pelas bruxas, pelos lagostins e pelos carabineiros, o restaurante Mar do Inferno já é uma referência nacional no que diz respeito ao marisco. Aberto há mais de 43 anos, a proprietária Lourdes Tirano afirma que já recebeu estrelas nacionais e internacionais, mas essa não a razão pelo qual são conhecidos.
A história do Mar do Inferno começa logo a seguir ao ano da revolução dos cravos. Nessa altura, a família Tirano já tinha um estabelecimento em Alcabideche que se ocupava de servir chouriço, presunto e queijo fresco, como acompanhamento das sandes. Mas foi após o casamento de Maria de Lourdes Tirano, que as famílias levaram as tradições para a Boca do Inferno, em Cascais.
Erguido através de algumas tábuas de madeira, nos primeiros anos não tinham capacidade para receber famílias numerosas ou grandes grupos. Lourdes Tirano conta que «no início do negócio não havia muito dinheiro» e que, por isso, abriu-se uma pequena tasca na Boca do Inferno. Ao relembrar os primeiros passos, a fundadora garante que nos dias de hoje «aquilo nem era considerado um restaurante».
O negócio sempre foi gerido pela família Tirano e, por isso, foi a própria Lourdes que ficou, durante muito tempo, a coordenar as limpezas, a cozinha e o serviço à mesa. Os dois filhos do casal decidiram deixar a escola, para ajudar a mãe na direção do estabelecimento. Entretanto, foram chegando cada vez mais pessoas à casa, até construírem uma equipa com cerca de 35 funcionários.
Nos longos anos de história, a proprietária declara que durante muitos fins de semana – quando tinham mais afluência de clientes – «a minha mãe e os meus primos vinham-me ajudar» e foi aí que começaram a vender com abundância.
A fama do Mar do Inferno foi crescendo de tal forma que a família se sentiu obrigada a fazer obras, por duas vezes, com o objetivo de alargar o espaço. Da tasca, passaram a um restaurante com 180 lugares, com uma esplanada com vista para o mar. As receitas são as mesmas de há 43 anos e mesmo com o passar do tempo, «não conseguimos mudar a ementa porque os clientes não deixam, por já estarem habituados e gostarem muito da nossa comida».
Fotografia de Mafalda Gomes
A rotina
O dia no Mar do Inferno começa por volta das 10h da manhã, quando as primeiras pessoas vão chegando ao restaurante. Começam-se a montar as mesas, a preparar o marisco e a receber muitos telefonemas para reservas em cima da hora.
A dona do restaurante diz que «a qualquer hora, sempre que se vai ao Mar do Inferno, um dos elementos da direção está presente». A família reúne-se todos os almoços para ajudar nas funções de serviço à mesa. E apesar de já ter destacado pessoas para o efeito, Maria de Lourdes assegura que continua a ajudar na cozinha. Aliás, diz que «a chefe continuo a ser eu».
Pessoas conhecidas é o que não falta no restaurante: desde políticos, ao mundo do futebol e até atores, por norma é comum encontrarem-se caras conhecidas a degustar as receitas da família Tirano. No entanto, a proprietária conta que não gosta de revelar os nomes que por lá passam e nem tão pouco pede para tirar fotografias «porque não quero que eles pensem que eu estou a aproveitar a vindo deles para fazer publicidade». Mas as redes sociais não enganam, Cristiano Ronaldo, Jorge Jesus, Norah Jones são e James Hetfield são alguns dos nomes que já conheceram as bruxas de Cascais.
Para almoçar ou jantar no Mar do Inferno, as reservas devem ser feitas com «duas semanas de antecedências», nos meses de verão. No resto do ano, há mais procura para os jantares ao fim de semana, mas regra geral «a casa está sempre cheia». O restaurante está aberto de todos os dias, com a exceção de quarta-feira, das 12h30 às 22h30.
Os segredos
A chave do sucesso do restaurante é ter «coragem para deitar fora», explica a proprietária. O segredo que todos guardam religiosamente no Mar do Inferno é saber que «o peixe hoje é bom e que amanhã ainda continua com o mesmo sabor, mas a partir do terceiro já não presta» e aí é preciso ter coragem para o deitar fora, declara Lourdes Tirano, satisfeita com os elogios que recebe, no que diz respeito à frescura do peixe.
Maria de Lourdes assegura que nunca tirou um curso relacionado com a hotelaria. Ao longo da vida foi aprendendo algumas receitas, com as pessoas que lhe eram mais próximas, como por exemplo a sua mãe que lhe ensinou a confecionar o arroz doce ou o chefe Luís Bexiga que lhe passou o segredo do arroz de tamboril – ambos atualmente implementados no Mar do Inferno.
Os fornecedores também são outro truque que tem na manga: segundo a dona do restaurante, a localização privilegiada dá-lhe direito a ter as melhores bruxas, santolas e percebes de Cascais. Mas também há marisco que vem do Algarve como as ameijoas, o camarão e os carabineiros. Além disso, ainda exportam do estrangeiro, como é o caso da sapateira.
Mar do Inferno
Avenida Rei Humberto II de Itália
Boca do Inferno – Cascais
Aberto desde 1975
Especialidades: marisco e peixe