A rentrée já lá vai e Rui Rio teve mais uma semana difícil no PSD. Em poucos dias, o presidente social-democrata ampliou a crise interna ao valorizar a ideia de uma taxa para combater a especulação imobiliária da autoria do Bloco de Esquerda. Mais, Rui Rio sentiu o aumento da frustração da sua comissão política e foi alvo de duras críticas no conselho nacional por ter convidado os críticos a saírem e por ameaçar pôr em tribunal autarcas do PSD. À entrada para a reunião foi questionado sobre se temia ouvir críticas lá dentro e respondeu com ironia:«Estou cheiinho de medo».
Na resposta ouviu o ex-líder parlamentar do partido, Hugo Soares -próximo do seu potencial adversário Luís Montenegro- a avisá-lo que não recebia «lições de militância» em pleno conselho nacional. Um discurso que teve direito a palmas e foi o mais duro do encontro contra o líder do PSD.
Antes da reunião, Rio já tinha sido alvo de muitas críticaspela forma como está a tratar os opositores internos. José Eduardo Martins, ex-deputado e candidato à Assembleia Municipal de Lisboa, considerou que a expressão usada por Rio não é própria de um presidente partidário. «Parece uma conversa um bocadinho pueril. Um presidente está acima destas coisas, não se alimenta da quezília interna (…). Acho poucochinho», afirmou ao SOL. O ex-dirigente já declarou o seu apoio a Pedro Duarte, ex-deputado e antigo secretário de Estado, para uma candidatura à liderança do PSD, mas isso não o impede de considerar que Rio aguenta o mandato até 2019. E vai a votos. «Claro que vai. Fazia um apelo para que se concentrasse mais nos adversários e não nos companheiros», pediu José Eduardo Martins.
No Conselho Nacional da passada quarta-feira, nas Caldas da Rainha, a histórica militante do partido, Virgínia Estorninho, queixou-se do líder por ser um « general sem tropas». O desabafo não foi um mero ataque a Rio. Virgínia Estorninho explicou ao SOL que o desalento aumentou entre as bases do PSD e deu voz ao sentimento geral no partido. «Sinto que as tropas estão a fugir e um partido só pode vencer quando os militantes estão motivados e não quando se atacam os militantes». Virgínia Estorninho pediu mudanças na estratégia de Rio porque o líder do PSD «está a ficar isolado e já existem muitos militantes que votaram nele que não concordam». Para Virgínia Estorninho a ordem é para mudar : «[Rui Rio] Tem que fazer oposição ao governo e não aos militantes. É isto que está a faltar».
Sinal da frustração que vários conselheiros sentiram após a reunião do conselho nacional, Virgínia Estorninho também teve dúvidas se Rio ouviu os seus apelos. »Não sei se Rui Rio ouviu alguma coisa do que eu disse, porque efetivamente esteve a falar com a Dra. Elina Fraga [vice-presidente do PSD], estiveram sempre conversar enquanto os militantes falavam».
Caso Taxa Robles atingiu Rio
A forma como Rio classificou a ideia do BE – de penalizar a rotatividade da compra e vendas de casas- acabou por ganhar maior dimensão porque até o PS chumbou a proposta. Rui Rio limitou-se a dizer que a ideia não seria «assim tão disparatada», mas foi o suficiente para tirar o tapete ao deputado do PSD Leitão Amaro, que tinha criticado a criação de mais um imposto pela esquerda. As ondas de choque interno pela colagem do PSD ao partido de Catarina Martins, chegaram à comissão política, com alguns dirigentes a assumirem ao SOL que foi um «tiro no pé». Resultado? Na direção a frustração com a estratégia do presidente social-democrata aumentou, tendo o líder do partido sido aconselhado a emendar a mão, ao explicar de forma clara que o partido não defendia o aumento de impostos. Pelo contrário iria apresentar, em sede de Orçamento do Estado, um pacote de medidas para diferenciar a aplicação do imposto sobre as mais-valias, havendo espaço à descida de impostos para quem não pratica a chamada especulação imobiliária. Ainda assim, a explicação aos media e aos dirigentes da comissão política não chegou para suster a polémica.
No conselho nacional, figuras como o ex-líder parlamentar Hugo Soares atacaram Rio por ter passado a imagem de ter sido «o único partido que deu a mão à proposta do BE». O vice-presidente da bancada António Leitão Amaro sublinhou que se tratava de «um erro identitário, técnico e político», segundo relatos feitos ao SOL. O ex-deputado Luís Rodrigues alertou que a opinião públicairia olhar para o PSD como um partido que «apoia a criação de um novo imposto ou o agravamento do existente, enquanto que o PS se demarca imediatamente». Rui Rio já fez saber que o partido não irá apresentar um novo imposto e a direção da bancada promete ser «construtiva» na elaboração das medidas.