O Verão tem os seus calores. Na política, os atores aproveitam para descansar – pelo que, no regresso, deveriam vir com ideias novas e refrescadas. Mas verifico que, por excesso de calor nas férias ou pelo calor das palavras, conseguem ainda surpreender com tiradas ou ideias que, mais do que tiros na água, são autênticos tiros nos pés!
Foi o caso desta ‘taxa Robles’, suscitada pelo Bloco de Esquerda. Sinceramente, fiquei estupefacto com a iniciativa (ou o seu retomar) de tributar adicionalmente a especulação imobiliária. Por inabilidade ou por convicção, Catarina Martins voltou a trazer ao de cima o caso de Ricardo Robles, ao lembrar-se de um tema que anda a queimar o Bloco nas sondagens. Ao contrário do que seria normal, depois de umas semanas de acalmia com o affaire Robles relativamente esquecido, Catarina lembrou-se de o ressuscitar – sem perceber que o tema só lhe podia correr mal, como aliás aconteceu.
O Governo que Catarina suporta justificou bem o epíteto de ‘geringonça’ ao recusar liminarmente, pela voz de António Costa, tal imposto, relembrando (e bem) que já existe o imposto de mais-valias. O eleitorado de imediato associou Robles e o Bloco a tal putativo imposto – e lá vão mais uns votos perdidos.
A festa do Avante! foi mais do mesmo. Muita música de qualidade, muita política com Jerónimo jurando que Costa não pode dar por garantida a aprovação do Orçamento (utilizando num momento de maior calor um dito popular envolvendo ‘ovos e galinhas’).
Mas que poderia ele dizer que não fosse o que os fiéis gostam de ouvir… mas em que nem eles próprios acreditam?
Entre ataques ao PS, defendendo a imprescindibilidade do apoio do PCP para manter políticas de esquerda, Jerónimo foi reivindicando como suas as conquistas do Governo. Mas, entre a modernidade das selfies – a que até Jerónimo já aderiu -, verifiquei que o PCP não muda, insistindo numa ‘pureza do socialismo’ que a realidade não se cansa de desmentir. Por isso mesmo, ao longo dos últimos anos, tem perdido votos para a sua esquerda (leia-se BE, o tal das «carinhas larocas») ou para a sua direita (PS a repor rendimentos, ficando com os louros das lutas do PCP).
Não era para falar de Rui Rio que, finalmente, no encerramento da Universidade de Verão do PSD – e sobre o caso de Tancos – fez oposição real ao Governo, como se viu na reação imediata e intempestiva do ministro da Defesa.
Mas por que será que, quando faz uma crítica certeira capaz agregar militantes, se lembra logo do contrário, convidando opositores internos a mudarem de partido? Qual o sentido deste apelo? Dividir para reinar? Afirmar internamente um poder que se verifica cada vez mais frágil, como se pôde ouvir nos discursos do Conselho Nacional das Caldas da Rainha?
Transpondo as suas ideias do plano do partido para o plano do país, será que alguém, para criticar o Governo, tem de mudar de nacionalidade?
P.S. 1 – Sobre a recondução de Joana Marques Vidal como PGR, muita gente tem escrito, pelo que pouco ou nada acrescenta a minha opinião. Mas tenho de agradecer a Francisco Seixas da Costa o artigo em que catalogou a recondução da procuradora uma questão de esquerda ou direita. Com tantos processos em curso contra figuras da direita e da esquerda, afirmar que alguém que corta a eito sem olhar a nomes é uma «candidata da direita» foi o maior elogio que se pode fazer a um adversário na política.
P.S. 2 – No Benfica vive-se o complexo da perseguição, sem se atentar à substância das acusações – sustentando-se este complexo em múltiplos casos de decisão obviamente duvidosa. Com o roubo de emails quase resolvido quanto à sua autoria (estando por demonstrar quais os envolvidos de facto, para existirem consequências), esses complexos são sustentados no caso das tochas (em que tantos prevaricam mas apenas o Benfica foi condenado) ou no caso de claques ilegais (verificando-se que as ‘legais’ de Sporting e Porto prevaricam comprovadamente em casos tornados públicos – Alcochete, Centro de Treinos da Maia – sem qualquer penalização).
Contudo, por muita razão que tenha nestes casos, será que o Benfica também não olha para situações que mancham a sua reputação, como o facto de Paulo Gonçalves continuar em funções? Alguém me explica por que bulas continua?
P.S. 3 – Depois de há um ano ter tentado ensarilhar a vida dos automobilistas de Lisboa com propostas de obras na 2.ª Circular, rapidamente esquecidas por motivos autárquicos (desculpando-se com formalismos de concurso), Medina vem agora propor uma faixa de bus na A5! Os automobilistas que tudo pagam em Lisboa para trazer o carro merecem este tratamento de polé com que Medina os mimoseia?
Manuel Boto
Economista