A ideia de um alinhamento das distritais a favor da direção do PSD e do líder do partido, Rui Rio, ganhou ontem forma através de um comunicado subscrito por todas as distritais, exceto a de Lisboa. O objetivo foi o de dizer «basta», porque os subscritores do texto não pactuam «com agendas pessoais que possam pôr em causa os superiores interesses do País». O texto foi apresentado em Santarém, mas faltaram alguns dirigentes, como os de Setúbal, o de Viseu – com compromissos no distrito -, Faro e Beja.
O objetivo da iniciativa, preparada pelo vice-presidente do PSD e líder da distrital de Aveiro, Salvador Malheiro, acabou por ser interpretado como um voto de confiança perante a agitação interna, de críticas sucessivas e da ameaça de um congresso extraordinário. Oficialmente, a ideia partiu de várias distritais, mas o principal interveniente foi o vice-presidente Salvador Malheiro.
A versão inicial previa expressões como «repúdio» aos críticos. O texto final mitigou o vocabulário mais duro para garantir que os líderes das distritais subscreviam e davam uma imagem de força e apoio ao líder, Rui Rio.
Quem não assinou foi Pedro Pinto, presidente da distrital de Lisboa. Ao SOL, o dirigente justificou a decisão: «Não tive acesso ao comunicado. Acho que é completamente desnecessária esta reunião, porque dá uma ideia de fragilidade em relação à direção. A liderança não foi posta em causa por nenhum presidente distrital. Ninguém tem levantado nenhuma questão. A questão da lealdade ao presidente do partido é total. Mas uma coisa é lealdade outra coisa é vassalagem».
Lisboa foi a primeira a ser contactada por Salvador Malheiro, vice-presidente do PSD e líder da distrital de Aveiro, mas Pedro Pinto nunca recebeu a primeira versão do texto ontem divulgado. O dirigente ouviu algumas explicações e frases do comunicado por telefone, apontou a necessidade de alterações e frisou que teria de de ouvir a sua comissão política. A reunião só se realiza esta terça-feira, por isso, Pedro Pinto não se sentiu confortável em subscrever o documento. Mais, não iria comprar uma guerra com a sua equipa onde consta o nome de Ângelo Pereira, um vice-presidente da distrital que chegou a estar na lista de ex-candidatos autárquicos alvos de processo pela sede do partido por sobre-endividamento.
No partido, o tema agitou o debate nas últimas 48 horas. Houve quem apontasse nervosismo à direção, e um antigo dirigente social-democrata fez um diagnóstico fatal: «Quando um líder começa a precisar do apoio dos líderes das distritais, esse líder está acabado. Só vai acelerar o fim. Os sinais da queda de Roma eram assim».
Há um mês, o discurso de que Rio iria a jogo às eleições em 2019 era partilhado pela maioria dos críticos, mesmo os que admitiam que a sua liderança poderia ser avaliada em dezembro. Com a ameaça do vereador de Loures, André Ventura, em recolher assinaturas para um congresso extraordinário, o registo é, agora, mais cauteloso. Há quem defenda que o objetivo é o «desgaste da liderança». O culminar da crispação interna e o cenário de um congresso extraordinário, algures em dezembro, acabou por resultar num comunicado das distritais onde se sustenta que existem «tentativas de deturpação» do presidente do PSD vindas de outros militantes. «Quem assim procede contribui para a danificação da imagem do PSD e está, objetivamente, a atuar com prejuízo dos nossos objetivos eleitorais, porque atua em beneficio dos nossos adversários políticos», explicita o texto. Segundo apurou o SOL, vários dirigentes assinaram o documento sem grande convicção. «Alguns assinaram o texto com receio de penalizações nas listas», frisou ao SOL uma fonte parlamentar, reconhecendo o incómodo interno.