Patologista forense de origem húngara formado em escolas alemãs, em 1939 visitou os Estados Unidos e até considerou ficar lá a viver. Optou no entanto por regressar ao seu país – algo de que viria a arrepender-se amargamente. A 16 de maio de 1944 foi detido com a mulher e a filha e pouco depois dava entrada no campo de concentração de Auschwitz, na Polónia. Dadas as suas competências clínicas invulgares, foi destacado para trabalhar às ordens de uma das mais infames figuras do Terceiro Reich, o sinistro dr. Josef Mengele.
Nyiszli estava habituado a fazer autópsias e dissecar cadáveres e não era portanto um homem facilmente impressionável. Porém, aquilo que viu em Auschwitz deixou-o chocado, incrédulo e profundamente deprimido.
Vivendo num quarto do Crematório 1, fazia parte do Sonderkommando. Ao contrário dos outros prisioneiros, estes homens tinham direito a privilégios imensamente cobiçados:_comida abundante e saborosa, instalações confortáveis e roupas limpas e quentes.
Mas cabia-lhes a tarefa especialmente difícil e perturbadora de reduzir a cinzas os corpos das vítimas das câmaras de gás.
Para Nyiszli, pior do que testemunhar esses horrores, foi talvez o facto de ter de participar nas terríveis experiências em que Mengele usou os prisioneiros como cobaias. Por isso, quando um dia o pesadelo terminou, voluntariou-se para testemunhar contra os responsáveis nazis nos julgamentos de Nuremberga e escreveu um depoimento objetivo sobre tudo o que tinha visto e feito em Auschwitz. Este documento breve, mas esmagador, já saiu sob dois títulos diferentes: Eu Fui o Assistente do Doutor Mengele ou Auschwitz – O_Testemunho Ocular de um Médico.
A primeira tradução inglesa, de 1960, trazia um posfácio extremamente polémico do psicólogo Bruno Bettelheim, em que, sumariamente, este acusava o povo judeu de ter sido conivente com o seu próprio genocídio, e Nyiszli de ter sido cúmplice dos nazis.
Os historiadores de hoje consideram essa tese revoltante e vilipendiam o psicólogo. Nyiszli foi uma vítima, não um criminoso. Por mim, da mesma maneira que não me atreveria a fazer juízos morais sobre o ajudante de Mengele, jamais os faria sobre Bettelheim. Afinal, também ele sobreviveu aos campos de concentração. E nem precisaria de ter sido o brilhante psicólogo que foi para merecer o nosso maior respeito.