Da CNN ao Le Point, passando pelo britânico The Guardian, a notícia da descoberta de uma nau portuguesa da Carreira da Índia no leito do Tejo não passou despercebida a nível internacional. O navio, que «esteve a dormir 400 anos no fundo do mar mesmo debaixo do nosso nariz», como escreveu Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais, no jornal i, encontra-se afundado a 12 metros de profundidade perto do ilhéu do Bugio.
O arqueólogo subaquático Jorge Freire, diretor científico do Projeto Municipal da Carta Arqueológica Subaquática de Cascais, descreve o que viu quando mergulhou no local: «O que está no sítio são canhões em bronze com o escudo de Portugal e a esfera armilar, âncoras, temos também grãos de pimenta que andam ali à deriva, cerâmica [chinesa] da época Wanli, do século XVI-XVII, e mais alguns elementos que ainda não conseguimos identificar», explica ao SOL. «A estrutura em madeira da própria nau também é visível», ao contrário do que acontece com navios mais antigos. E ali vai continuar, como mandam as convenções internacionais de salvaguarda do património subaquático.
Embora haja quem se pergunte como foi possível ignorar durante tanto tempo um navio que repousava tão perto da superfície, Jorge Freire considera a situação normal:_«O mar é dinâmico e assoreia com frequência», o que terá escondido o que resta da nau. Aliás, a localização do naufrágio não se deu por obra do acaso. «Foi fruto de um trabalho sistemático e científico de prospeção com mergulhadores e de levantamento geofísico que dura desde 2009 em Cascais e nesta zona concreta desde 2015». O arqueólogo esclarece, de resto, que «esta foi já a quarta descoberta naquela zona». Os outros navios localizados são em ferro, «da Primeira Guerra Mundial e posteriores».