Seis anos e meio. Foi esse o tempo que os adeptos do Braga tiveram de esperar para ver o gigante do Minho voltar a ocupar o lugar mais alto do futebol nacional de forma isolada. Na altura, aconteceu a seis rondas do fim e ainda permitiu sonhar (se bem que por muito pouco tempo); agora, e como canta o grande Jorge Palma, ainda há muita estrada para andar, mas os sinais que vão passando dos meninos orientados por Abel dão espaço à crença – como se viu frente ao Sporting, na jornada 5, e mais uma vez neste domingo à noite, no Jamor, com a concludente vitória sobre a equipa detida pela SAD do Belenenses: 0-3.
Em 2011/12, com Leonardo Jardim no banco minhoto, o Braga fez uma época portentosa. Acabou o campeonato com 62 pontos, o segundo registo mais alto da sua história – melhor só em 2009/10, quando discutiu taco a taco o título com o Benfica até à última, sendo líder em dez jornadas (terminaria em segundo com 71 pontos). Sob o comando do atual treinador do Mónaco, os bracarenses andaram toda a época à frente do Sporting e a morder os calcanhares a FC Porto e Benfica, com o ponto alto a surgir em março, à jornada 24, após vencer a Académica (2-1) e beneficiando de empates de FC Porto (1-1 em Paços de Ferreira) e Benfica (0-0 em Olhão).
Foi sol de pouca dura, porém. Na ronda seguinte, o Braga visitou a Luz e saiu derrotado por 2-1, com um golo do brasileiro Bruno César em cima do apito final. Os minhotos terminariam em terceiro, a 13 pontos dos dragões e a sete das águias.
Zorya como exemplo Este Braga é já uma versão 2.0. Abel pegou na equipa no fim da temporada 2016/17 e levou toda a época passada a aprimorá-la, conseguindo mesmo a melhor pontuação de sempre do clube: 75 pontos – o quarto lugar final, a três pontos do Sporting, soube a pouco. O antigo lateral-direito viu sair Jefferson, Vukcevic, André Horta e Hassan e ainda teve de fazer face à lesão gravíssima do guarda-redes Matheus; a somar a tudo isto, viu o Braga cair logo no playoff de apuramento para a Liga Europa, após dois empates com o modesto Zorya, da Ucrânia.
Para já, tudo está a ser ultrapassado na perfeição. O Braga soma cinco vitórias e apenas um empate, naquele louco 3-3 nos Açores, frente ao Santa Clara, quando vencia por 3-0 aos 40 minutos – só aí sofreu metade dos golos que concedeu nas restantes cinco rondas, tendo marcado 15 (segundo melhor ataque, só atrás do FC Porto, que tem mais um). “É fruto do trabalho diário, da nossa dedicação. Como vamos fazer para manter a liderança? Honestamente não sei, não adivinho o futuro, mas sei que se preparar assim o presente estamos mais perto de vencer. Não vamos ganhar sempre, mas esta terá de ser sempre a nossa cara”, frisou Abel após o triunfo no Jamor, ressalvando ainda algo que vem a dizer a cada jogo: “A cada semana que passa lembro-me do Zorya…”.
Outro aspeto que salta à vista é a aposta no produto nacional: frente ao Belenenses, SAD estiveram seis portugueses no onze inicial do Braga, com mais dois a entrar na segunda parte. E com um convidado ilustre nas bancadas: o próprio selecionador nacional. “É mais experiente, competente e ganhou mais do que eu. Não lhe posso dizer nada, mas ele sabe que o Braga é a equipa que joga com mais portugueses. O que eu posso fazer é mostrar-lhe o menu, e no nosso cardápio há muita solução”, atirou Abel. Atendendo a que a próxima convocatória é conhecida já daqui a dois dias e que nomes como Ricardo Horta, Ricardo Esgaio, Wilson Eduardo ou mesmo o jovem guardião Tiago Sá têm dado tão boa conta de si, será legítimo parar pelo menos um bocadinho para ouvir os convocados de Fernando Santos a partir das 12h30 desta quinta-feira.