‘PSD caminha para um resultado à volta dos 20%’

Luís Cirilo desfiliou-se do PSD em rutura com Rui Rio e vai juntar-se à Aliança. O ex-deputado diz que ‘não se sentia bem neste PSD’ e prevê o ‘pior resultado de sempre’ para o partido. 

Descontente com o rumo do PSD, Luís Cirilo, ex-deputado e secretário-geral adjunto nos tempos de Durão Barroso, bateu com a porta com duras críticas a Rui Rio e aos que são «solidários com ele». Cirilo já entregou o cartão de militante e é quase certo que vai integrar a Aliança. «Sou amigo há muitos anos do dr. Santana Lopes, trabalhei com ele na última campanha das diretas, é natural que os nossos caminhos voltem a convergir. Não quer dizer que seja obrigatório, mas é natural», diz ao SOL.

Militante do PSD desde 1975, Luís Cirilo foi deputado durante seis anos, entre 1999 e 2005. Ao fim de 43 anos de militância resolveu bater com a porta, agastado com «algumas atitudes da liderança». Ao SOL, o social-democrata aponta um por um os episódios que levaram à rutura: «Aquele convite aos que não estão de acordo para saírem do partido. Aquele abaixo-assinado [das distritais] tipo brigada do reumático que eu acho uma coisa patética. Os processos judiciais aos autarcas. O Presidente do partido a desconsiderar e a desorientar o líder parlamentar…». Mas «a gota de água que fez transbordar o copo» foi a polémica à volta de uma tertúlia organizada em conjunto com Virgílio Costa, ex-presidente da distrital de Braga. A iniciativa juntava o ex-líder do partido, Marques Mendes, o ex-líder parlamentar Luís Montenegro e o atual secretário-geral José Silvano em Famalicão, mas acabou por ser cancelada. Silvano terá sido o primeiro a desistir para evitar um confronto entre a direção e os críticos. «O secretário-geral andou a convencer as pessoas a não vir».

A aproximação do PSD ao governo socialista foi outra das razões que levaram Luís Cirilo a desfiliar-se. «Não é essa a minha visão do PSD e também não é essa a história do partido. Não me sentia bem neste PSD». Para o ex-deputado, a estratégia de Rui Rio poderá ter consequências trágicas, principalmente a nível dos resultados eleitorais nas legislativas do próximo ano. «Por este caminho será o pior resultado da história do PSD. O partido caminha para um resultado à volta dos 20% ou menos. O que é o pior resultado de sempre. Não tenho nenhuma dúvida disso». 

A saída de Luís Cirilo acontece uma semana depois de o ex-ministro Martins da Cruz ter deixado o partido por não se rever na «orientação e prática política da atual liderança, e da maioria das figuras à sua volta». O SOL apurou que o ex-ministro de Durão Barroso já foi sondado para integrar a Aliança. 

Estas saídas são vistas pelos críticos como mais um sinal de que a estratégia de Rui Rio nunca conseguirá unir o partido. O deputado Carlos Abreu Amorim considera que «o partido pagará um preço demasiado alto por persistir em afugentar tantos daqueles que elevaram o PSD à condição de maior força política portuguesa». Numa publicação no Facebook a comentar a saída de Cirilo, o ex-vice-presidente do grupo parlamentar defende que «a mensagem deveria ser a de acrescentar e de somar o contributo de todos em vez de descartar e excluir quem preferiu não fazer parte do grupo de fiéis». 

Na reunião da bancada parlamentar, nesta quinta-feira, os mais críticos voltaram a lamentar que Rui Rio seja tão brando na forma como faz oposição ao governo socialista. Mesmo depois de Fernando Negrão ter sido bastante duro com António Costa no debate quinzenal por causa do recuo do governo na transferência do Infarmed para o Porto. «Os portugueses não podem confiar na sua palavra. A palavra do primeiro-ministro tem agora um valor muito relativo». Costa não respondeu às acusações durante o debate, mas prometeu explicar «por escrito» a razão pela qual não aceita lições de Negrão «sobre a palavra» dada. Se o fizer, o PSD já garantiu que vai divulgar a carta publicamente.