Conquistou seis medalhas nacionais no judo em Espanha e duas internacionais e era visto como um dos melhores na modalidade no escalão de -100 kg, mas acabou por largar a competição durante três anos devido à orientação sexual. Chama-se Marc Fortuny e contou a sua história em entrevista ao jornal "Marca", esclarecendo o porquê da decisão.
"Não me sentia capaz de continuar a competir e estar no mundo do judo sendo homossexual. O judo é um desporto de contacto e sentia que podia incomodar alguém. Quando praticava pensava ‘Se contar a algum dos meus colegas, no próximo combate alguém vai achar que lhe estou a tocar ou a olhar de forma diferente'", confessou, completando: "Estava a fazer algo que fiz a minha vida toda, mas alguns dias pareciam uma autêntica tortura. Era muito duro. Este assunto é totalmente tabu no desporto, é uma coisa que não se fala e o problema é de raiz porque decidiu-se que o desporto é algo masculino, de machos. E isso criou um dilema na minha cabeça, pois sinto-me atraído por rapazes mas não me sinto menos homem por causa disso. Tive de deixar o desporto de elite porque não estava bem e precisava de uma pausa para refletir e dar um passo à frente no campo mais pessoal. Por isso, decidi sair e ser eu mesmo."
Para Fortuny, este continua a ser um tema muito delicado no desporto. E o judoca (que entretanto voltou a competir) acredita mesmo que haverá vários homossexuais em todas as modalidades, incluindo o futebol, servindo-se da estatística para justificar essa posição. "Alguém acredita que em mais de 600 jogadores na 1ª Divisão não há um homossexual? Por favor… É uma questão estatística. Há muitos tabus, os jogadores têm medo de não arranjar clube. Há muita pressão dos clubes, dos adeptos, até pela imagem porque se associou a homossexualidade como sendo algo mau, negativo", realça o atleta.
A solução para iniciar uma mudança de mentalidades, defende Fortuny, está na educação. "Temos de começar por aí e pelos pequenos detalhes. É importante alterar certas coisas que são usadas para se referir à homossexualidade, porque isso é uma condição não intencional. Por exemplo, a palavra 'bicha'", salienta o judoca, destacando ainda a necessidade de mais atletas, especialmente alguns de referência, assumirem sem receios a sua orientação sexual. "Eu não me sentia identificado com os gays que conhecia. O gay mais conhecido por toda a gente é sempre efeminado, que se dá com mulheres… Isso não tem nada de mal, mas eu não me vejo assim. Quando houver mais referências no desporto, tudo mudará. Até que um futebolista importante admita ser homossexual, ninguém vai mudar este estigma", concluiu.
Recentemente, recorde-se, o judoca olímpico português Célio Dias confessou também a sua homossexualidade, pouco depois de deixar a ala psiquiátrica do Hospital Garcia da Orta, em Lisboa, onde esteve internado durante cinco meses. Em entrevista ao "Record", o atleta do Benfica revelou sofrer de uma "síndrome esquizo compulsiva, do quadro da família da esquizofrenia", e contou ainda ter tentado o suicídio por duas ocasiões. Entretanto, já voltou à competição.