Entrou para o Governo a meio do mandato. Já tinha passado o pior?
Sim. Entrei sensivelmente a meio. Eu costumo brincar e dizer que quando cheguei ao Governo tudo começou a melhorar. Foi a altura em que a economia regressou ao crescimento e em que o desemprego começou a baixar. Por coincidência. Era normal que, depois dos dois primeiros anos de medidas muitas duras de ajustamento, a economia começasse a recuperar.
Não vivia em Portugal quando foi convidado para o Governo. Revia-se na política de austeridade?
Naturalmente. Antes de entrar para o Governo, eu vivia entre Itália, onde regressei como professor, e Yale, onde passava o semestre de inverno. Mesmo vivendo fora do país acompanhava com grande proximidade a situação política. O desenho das medidas podia não ser sempre aquele que eu defenderia, mas entendia que globalmente a estratégia era a certa. O país tinha de passar por um processo de ajustamento, quer por razões internas, porque era incomportável a situação económica a que tínhamos chegado, quer por razões de credibilidade externa e de necessidade de financiamento. Os estudos internacionais que existem demonstram que, apesar de essas medidas de austeridade serem bastante dolorosas para os portugueses, foram comparativamente com outros estados europeus distribuídas de uma forma mais equitativa do que nesses países. As preocupações de justiça social na redistribuição e no desenho das medidas, de acordo com os estudos internacionais, foram mais fortes em Portugal do que em outros países. Não é que os portugueses não tenham feito sacrifícios. Fizeram e fizeram sacrifícios muito duros, mas a forma como essas medidas foram implementadas permitiu proteger aqueles com menos rendimentos. Isso não quer dizer que os programas de ajustamento na Europa sejam bem desejados e bem pensados.
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