A estratégia de Rui Rio continua a não convencer os críticos, mas ninguém assume que a solução possa passar por um congresso extraordinário. A continuidade de Rui Rio até às eleições legislativas é defendida até pelos mais críticos desta direção. André Ventura é o único a apostar na antecipação do congresso, mas sem apoios de figuras com peso no partido não será fácil recolher as 2500 assinaturas.
Pedro Duarte foi um dos poucos a defender publicamente que Rui Rio devia sair da liderança, mas assume que o partido precisa de estabilidade. «Não vou fazer nada que crie instabilidade interna. Estarei do lado da solução, não da confusão», diz ao SOL o ex-líder da JSD. Não é o único a defender que é preciso acabar com as guerras internas, porque as eleições estão cada vez mais próximas. O ex-ministro Miguel Poiares Maduro defende, em entrevista nesta edição do SOL, que «não faz sentido, neste momento, estar a colocar em causa a liderança». Para o ex-ministro de Passos Coelho, o atual líder deve disputar as eleições legislativas e só depois disso será feita uma avaliação. «Nós devíamos ter consciência de que este não é o momento para competirmos entre nós. É o momento para cooperarmos entre nós. É isso que o partido necessita a um ano das eleições e depois de ter escolhido recentemente um novo líder».
Miguel Pinto Luz e Miguel Morgado também vieram defender esta semana que Rui Rio deve disputar as eleições legislativas, que se vão realizar daqui a um ano. Miguel Morgado, um dos deputados mais críticos da estratégia de Rui Rio e um dos homens de confiança de Passos Coelho e antigo assessor político deste, deixou claro que Rui Rio deve cumprir o mandato até ao fim. «Sou contra iniciativas em curso para a realização de um congresso extraordinário e convocação de eleições antecipadas. O presidente do PSD deve levar até ao final o seu mandato», defendeu, em declarações à Agência Lusa, o deputado social-democrata.
Miguel Pinto Luz deu esta semana uma entrevista ao Observador em que afirma não ter «dúvidas absolutamente nenhumas» de que Rui Rio deve ser o candidato às próximas eleições legislativas. «Vejo hoje vozes a falarem sobre a possibilidade de congressos antecipados, quando no congresso não disseram absolutamente nada», afirmou o autarca de Cascais.
A estratégia dos críticos é dar tempo a Rui Rio e avaliar os resultados eleitorais. O primeiro teste são as eleições europeias, que se vão realizar no dia 26 de maio. São poucos os que acreditam que o PSD consiga ganhar, mas tudo vai depender da dimensão da derrota. A única certeza é que os interessados em conquistar a liderança não estão parados e não são poucos. Pinto Luz voltou a posicionar-se esta semana com a garantia de que está «preparado» para outros combates. Luís Montenegro, Pedro Duarte ou Paulo Rangel são outros nomes a ter em conta nas próximas eleições internas. Ao contrário do que aconteceu nas últimas diretas, em que só Pedro Santana Lopes apareceu, não faltam candidatos à liderança.
Até o nome de Pedro Passos Coelho voltou a ser falado. Marques Mendes garantiu que ex-líder quer voltar ao partido que liderou durante quase sete anos. «Passa-lhe pela cabeça um dia voltar a ser líder do PSD e a ser primeiro-ministro. De alguma forma ele considera que a sua obra está inacabada», afirmou, no seu comentário na SIC.
Passos «muito amável»
Um cenário que é afastado por alguns sociais-democratas próximos de Passos Coelho. É visto como natural um regresso à política ativa, mas não à liderança do partido. Passos Coelho demitiu-se há apenas um ano depois da derrota pesada que sofreu nas eleições autárquicas. «Nesta fase essa questão não se coloca e não faz sentido», afirma, em entrevista ao SOL, o ex-ministro Miguel Poiares Maduro.
A decisão do ex-primeiro-ministro de recusar a condecoração de Belém foi vista como um sinal político de que Passos quer voltar a ter um papel relevante na política. O Presidente da República confirmou que sondou o ex-primeiro-ministro, há um ano, sobre «a hipótese de vir a receber, como os antigos primeiros-ministros, a Grã-Cruz da Ordem de Cristo». Passos Coelho recusou, de «uma forma, aliás, muito amável», porque «entendia que era cedo, no seu percurso, esse reconhecimento nacional».
Rui Rio e a turbulência no PSD
O líder social-democrata anda pelo país a ouvir os militantes. Até agora, reuniu-se com os militantes do distrito do Porto e de Lisboa. «Com a turbulência toda que sai na comunicação social, admito que alguns estejam um bocado confusos», disse Rio, que quer percorrer todas as distritais até janeiro. Perante as saídas de alguns militantes, como o ex-ministro Martins da Cruz, e as críticas de Paula Teixeira da Cruz, em entrevista ao SOL, há uma semana, o líder do PSD diz que o melhor é não falar das «questões internas», porque pode «parecer que está a dar resposta a quem tem vindo a criar alguns tumultos». Rui Rio desvalorizou as desfiliações com a garantia de que são mais os que estão a entrar do que a sair.
* Com Cristina Rita