A alimentação é um tema cada vez mais discutido: que alimentos fazem bem, quais os que devemos evitar e quais devemos consumir… Não é novidade que os hábitos alimentares têm influência no corpo humano, mas um estudo da Universidade de Leeds, no Reino Unido, revela um novo dado que interessa às mulheres: a dieta pode influenciar a chegada da menopausa.
Os especialistas acompanharam 14 172 mulheres durante aproximadamente quatro anos. Desse conjunto, 914 mulheres passaram por uma menopausa. A idade média na menopausa natural foi de 51 anos.
Juntando esses dados aos resultados de um detalhado inquérito sobre hábitos alimentares, os investigadores notaram que o consumo elevado de hidratos de carbono pode fazer com que a menopausa apareça um ano e meio antes do previsto.
O estudo publicado na revista científica Journal of Epidemiology & Community Health revela ainda que uma dieta rica em peixe, leguminosas e óleos saudáveis pode atrasar a menopausa, até cerca de três anos.
António Vaz Carneiro, médico e diretor da Cochrane Portugal – uma organização internacional que promove a tomada de decisões de saúde com base em revisões e análises de estudos – defende que o estudo em causa foi bem elaborado. “A mim parece-me um estudo bem feito, que segue uma metodologia correta. Não há nada de estranho. É assim que se faz um estudo deste tipo. Acho que os resultados são bastante consistentes”, explica ao SOL.
Contudo, António Vaz Carneiro adianta que o trabalho elaborado não permite tirar conclusões concretas sobre que dieta devem adotar as mulheres. “A partir deste estudo, não é possível saber como aconselhar as mulheres. Não é possível dizer para evitarem isto ou comerem aquilo, porque ambas as situações têm riscos: a menopausa precoce tem uns e a mais tardia tem outros. Ficamos apenas com uma ideia de que a dieta pode influenciar a chegada da menopausa”, afirma o especialista.
Possíveis causas Apesar de não conseguirem provar com certeza qual a relação causal entre a dieta e a chegada da menopausa, os especialistas responsáveis pelo estudo referem possíveis explicações por trás das descobertas. Em causa, diz a pesquisa, poderá estar o impacto de cada alimento no organismo.
Os hidratos de carbono, por exemplo, aumentam o risco de resistência à insulina, o que pode interferir na atividade das hormonas sexuais e, em consequência, subir os níveis de estrogénio. Isso pode fazer aumentar a quantidade de ciclos menstruais, levando a que os óvulos se esgotem mais rapidamente.
Por outro lado, as leguminosas contêm antioxidantes, que podem manter a menstruação por mais tempo. Os alimentos ricos em ácidos gordos ómega 3 também estimulam a capacidade antioxidante no organismo.
Vantagens Para a coautora do estudo, Janet Cade, professora de Epidemiologia Nutricional, as descobertas podem trazer vantagens para as mulheres. “Uma compreensão clara de como a dieta afeta o início da menopausa natural será muito benéfica para as mulheres que já podem estar em risco ou ter um histórico familiar de certas complicações relacionadas com a menopausa”, refere a cientista, em declarações à BBC.
Já António Vaz Carneiro afirma que a menopausa não deve ser desvalorizada. “A menopausa é importante, porque uma menopausa precoce implica riscos, mas uma menopausa tardia também”, refere o médico.
As mulheres que passam pela menopausa cedo têm, por exemplo, risco aumentado de osteoporose e doenças cardíacas. Já as que chegam a esta fase tardiamente têm maior risco de sofrer de cancro da mama, do útero e dos ovários.
Alerta Apesar de defenderem que a alimentação pode ter um peso importante no aparecimento da menopausa, os cientistas da Universidade de Leeds deixam claro que existem outros fatores a ter em conta, como a genética, o peso da mulher, a sua vida reprodutiva, o estado das suas hormonas e o seu estilo de vida no geral.
Por isso, cada mulher deve prestar atenção aos sinais que o corpo dá e avaliar a sua própria menstruação, devendo procurar ajuda junto de um médico e nutricionista antes de fazer qualquer mudança na alimentação.
Também o médico António Vaz Carneiro alerta que é não aconselhável que se façam generalizações. “A dieta parece sim ter influência na menopausa desta população em específico. É muito difícil extrapolar para o resto das mulheres. Até porque a menopausa tem a ver com muitos outros fatores, como a genética”, acautela.