NUMA ESCOLA DO PORTO, de nome Francisco Torrinha, fizeram um insólito questionário às crianças de 9 anos.
Logo a 1.ª pergunta, onde o aluno devia dizer a que sexo pertencia, era assaz estranha: «homem», «mulher» e «outro». Outro? – terão pensado as crianças. Existe um terceiro sexo? O quê? Um alien, talvez… Um indivíduo de outro planeta com um sexo desconhecido…
A 2.ª pergunta era sobre o namoro. Perguntavam aos meninos se namoravam. Ora, será que a escola deve valorizar isso? Deve dar importância a namoros de crianças de 9 anos e perguntar-lhes se namoram ou não? E será que as crianças dão à palavra ‘namorar’ o mesmo significado que nós lhe atribuímos? O simples facto de os professores colocarem as crianças perante essa questão atribui-lhe uma importância que ela não tem (nem provavelmente deve ter).
Mas a 3.ª pergunta, então, era completamente inimaginável. Perguntavam às crianças se se sentiam «mais atraídos» por «homens», «mulheres» ou «ambos». Atraídos como? Sexualmente? Mas é concebível que uma criança de 9 anos se sinta «atraída» por homens ou por mulheres? Onde foram desencantar esta pergunta? Não perceberam que isto parece um convite à pedofilia?
Mas talvez mais absurda que a própria ficha foi a reação da Associação de Pais da escola, que se limitou a dizer, tranquilamente, que o inquérito «é desadequado» à idade, fazendo questão de acrescentar que «o tema educação para a igualdade de género está previsto no programa, no âmbito da estratégia nacional para a cidadania».
Extraordinário! Os pais apenas acham ‘desadequado’ que perguntem aos seus filhos de 9 anos se se sentem atraídos por homens, por mulheres ou por ambos!
Há pais, entretanto, que têm outra opinião. Filipa Chasqueira, psicóloga, mãe de quatro filhos, escreveu na semana passada no SOL: «O questionário surge desta tendência moderna e doentia de esmiuçar as escolhas sexuais das crianças, seja relativamente a brinquedos ou a pessoas. Assim de repente ocorre-me a questão: por que não deixam as crianças em paz?».
E mais adiante:
«Deixamos os nossos filhos na escola com a convicção de que estão entregues a pessoas sensatas e competentes, mas quando ouço falar de educação sexual na pré-puberdade fico logo arrepiada».
FELIZMENTE, o Ministério da Educação teve uma posição mais sensata do que a Associação de Pais. Disse que não conhecia o inquérito em questão, que se trata de um caso isolado e que está a investigar.
Esperemos que a investigação não seja para inglês ver, como muitas outras, e que as suas conclusões evitem novos disparates.
Com esta história do politicamente correto as pessoas começam a estar muito baralhadas. Já não há perguntas para crianças e perguntas para adultos; já há namoros sérios aos 9 anos; já não há só homens e mulheres mas uns seres que não imagino quais sejam (antigamente falava-se dos hermafroditas, que tinham os dois sexos, mas eram situações raríssimas e penso que as perguntas do inquérito não se referiam a isso).
PERDEMOS O PÉ. Estamos a perder as referências, o bom senso e a noção da realidade. Já não sabemos bem o terreno que pisamos. Quando se pergunta a uma criança se é doutro sexo que não o feminino e o masculino, está a introduzir-se dentro dela a semente da dúvida. A espicaçar-lhe a curiosidade. Outro? Qual outro? Há outro sexo?
E depois os pais têm problemas de consciência. Uns amigos dos meus filhos dão à filha carrinhos para brincar, para que ela não seja levada a ser uma ‘fada do lar’, pois isso já não se usa. Mas a menina só quer brincar com bonecas… E eles ficam confusos: será que a nossa filha é diferente das outras? Por que raio só se interessa por brinquedos ‘para as meninas’?
Há pessoas que ainda não perceberam uma evidência: os rapazes e as raparigas normalmente são diferentes, gostam de brincadeiras diferentes, interessam-se por coisa diferentes – e ainda bem que é assim porque senão o mundo era uma terrível monotonia.
Ao contrário dos ideólogos da igualdade, sempre apreciei as diferenças entre homens e mulheres. E, claro, entre meninos e meninas.