Dezenas de milhares de pessoas concentraram-se nesta terça-feira junto ao MASP (Museu de Arte de São Paulo) num protesto contra Jair Bolsonaro, eleito no domingo presidente do Brasil, convocado pelo Povo Sem Medo com o título "Vai ter resistência".
Perante a multidão, Guilherme Boulos, candidato do PSOL à presidência derrotado na primeira volta, sublinhou que o que está em causa não uma contestação do resultado das eleições. "Nós reconhecemos sim o resultado das eleições. Nós não somos o Aécio Neves, que em 2014 não reconheceu para dar golpe. Nós reconhecemos. Agora, o Bolsonaro se elegeu presidente do Brasil. Não imperador do Brasil, não o dono do Brasil. Não é nosso dono. E um presidente tem que respeitar as liberdades democráticas. Um presidente tem que respeitar a liberdade de manifestação, a liberdade de expressão. Tem que respeitar as oposições, não dizer que elas vão ou para a cadeia ou para o exílio. Já disse e dizemos aqui: nós não vamos nem para a cadeia nem para o exílio. Nós viemos às ruas, o lugar de lutar pelos nossos direitos e pela democracia. Viemos às ruas por tudo isso. Viemos em paz."
Do vão livre do MASP, a multidão que por essa hora tinha levado já ao corte da Av. Paulista no sentido da Consolação, gritava "não tenho medo". E Boulos completou: "Esse é o grito que viemos dar hoje na rua. Nós não temos medo.”
E completou, num discurso de apelo à não violência: "Nós viemos às ruas em paz, porque a violência, a guerra, o resolver tudo na bala não faz parte da nossa cultura. Faz parte da deles. Nós viemos às ruas pela democracia mas também viemos às ruas pelos nossos direitos porque não vamos aceitar reforma da previdência que retire a aposentadoria do nosso povo. Não aceitámos com Michel Temer, não aceitaremos com Jair Bolsonaro. Ela não vai passar. Viemos às ruas também porque os movimentos sociais são legítimos, têm o direito de lutar e nós não aceitamos a criminalização",afirmou, em resposta a Jair Bolsonaro. "Eles acham que luta social se resolve por decreto, se resolve com lei, se resolve com violência. Sabe qual é a forma de resolver a luta do MTST? Construa seis milhões de casas para todo o povo que não tem casa nesse país."
Em defesa da manutenção da democracia e contra algumas das medidas já anunciadas como prioritárias por Bolsonaro e e os que integrarão a sua equipa depois da eleição, discursaram, além de Guilherme Boulos, o líder do PSOL, líderes de movimentos sociais, estudantis e sindicais, e o histórico fundador do PT, Eduardo Suplicy.
Sob um forte aparato policial, os manifestantes percorreram a Av. Paulista e parte da Rua da Consolação, até à Praça Roosevelt, com palavras de ordem como "ele não", "ditadura nunca mais", "ó Bolsonaro, seu fascistinha, a mulherada vai botar você na linha" ou "vem, vem p'rá rua vem, contra o fascismo".
Já na Praça Roosevelt, quando tinham dispersado a maior parte dos manifestantes, um grupo de dezenas de pessoas de cara coberta continuou a bloquear o trânsito para lá da hora prevista para o final do protesto. Depois de, com o trânsito parado, ter negociado por mais de uma hora, a polícia fez por volta das 23h dispersar o grupo que gritava palavras de ordem contra a PM com bombas de efeito moral. Os manifestantes responderam com garrafas.
À hora em que aconteceu o confronto, já os outros manifestantes tinham dispersado. Pelo menos uma pessoa foi detida no protesto que começou de forma pacífica no vão livre do MASP às 18h e que marchou pela Av. Paulista e a Rua da Consolação em direção à Praça Roosevelt, no centro de São Paulo. Outras manifestações com o mesmo mote e também convocadas pelo Povo Sem Medo tiveram lugar numa série de outras cidades brasileiras.