Termina amanhã o prazo para o governo italiano apresentar uma nova proposta de orçamento à Comissão Europeia. O ministro do Interior italiano e líder da Liga, Matteo Salvini, já anunciou que Roma não mexerá “nem um euro” na proposta inicial, mas ontem a cúpula do governo esteve reunida para se preparar para um confronto com as instituições europeias – o maior desde a eleição do Syriza na Grécia, em 2015. Roma deverá enviar uma carta a Bruxelas a reivindicar a sua política económica de aumentar o défice para os 2,4%, quando Bruxelas quer que o reduza para os 1,8%.
O conflito levou ontem o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, a mostrar-se “moderadamente preocupado” com o futuro das relações Roma-Bruxelas. “Os italianos estão a afastar-se não apenas do que nos prometerem, mas também dos requisitos mínimos do Tratado Orçamental”, disse Juncker à televisão alemã N-Tv, citada pela Reuters.
Uma preocupação que surge a poucos meses das eleições europeias de maio de 2019 e quando a Liga não para de subir nas sondagens, usando o euroceticismo para mobilizar o eleitorado. No início da semana passada, uma sondagem da Ipsos e publicada no “Corrriere della Sera” atribuiu à Liga 34,7% das intenções de voto, quase o dobro dos votos que recebeu nas eleições legislativas de março. Já o Movimento 5 Estrelas caiu 4%, para os 28,7%, quando recebeu 32,68% dos votos nessas mesmas eleições. De acordo com estes números, o confronto com a União Europeia, que se tem vindo a arrastar e que nas últimas duas semanas aumentou, tem reforçado o partido minoritário na coligação governamental italiana.
Na semana passada, o Eurogrupo reuniu-se e apoiou a exigência de Bruxelas a Roma para que esta entregue uma nova proposta, aumentando o tom do confronto e abrindo espaço à possibilidade de multas ao governo italiano.
“Já temos muitas multas”, reagiu Salvini, sem referir se iria cumprir e pagar. Salvini, explica o Político, não acredita que na eventualidade do confronto continuar em escalada Bruxelas avance com o bloqueio de fundos europeus pela importância da economia italiana. “A Itália é um dos países fundadores [da UE], a segunda potência industrial, não nos podem tratar como o Luxemburgo”, disse Salvini.
Se Bruxelas avançar com multas contra Itália a tão poucos meses das europeias estará, na prática, a dar um forte argumento às forças anti-UE e populistas de direita pela Europa para o usarem junto dos seus eleitorados. E Salvini sabe-o.