A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) registou, entre 2013 e 2017, 3.369 casos de pais e mães que pediram ajuda por terem sofrido agressões por parte dos filhos. Ao todo, foram registados por parte das autoridades 7.076 casos criminosos deste tipo.
Segundo os dados divulgados esta quinta-feira pela APAV, foram recebidos 765 pedidos de ajuda este ano. Em alguns dos casos reportados, os filhos são acusados de violação e de tentativa de homicídio. Nestes cinco anos, 2.752 das vítimas eram mulheres, sendo que grande parte tinha mais de 65 anos (44,6%).
No total dos 7.076 crimes reportados às autoridades, e citados pela APAV, 2.805 diziam respeito a maus tratos psicológicos, 1.763 a maus tratos físicos, 1.130 a casos de ameaças ou coação e 688 a casos de injúrias ou difamação. Há ainda registo de 179 casos de roubo, três casos de violação e três tentativas de homicídio.
Segundo a APAV, “tendo em conta o tipo de problemáticas existentes, prevalece o tipo de vitimação continuada em cerca de 80% das situações, com uma duração média entre os dois e os seis anos (13,2%)”. A Associação destacou que 55,2% das agressões ocorrem dentro da residência comum.
Quanto aos autores das agressões, 68,6% dos agressores são do sexo masculino. No entanto, não se conseguiu saber qual a idade dos autores na maior parte dos casos.
A APAV explica, em comunicado, que este tipo de ato se insere dentro da violência filioparental, que se trata de “atos violentos e intencionais de filhos em relação aos pais” e que, normalmente, envolvem ameaças, intimidação e tentativa de obtenção de controlo e poder. “A vergonha e a manutenção do mito da harmonia familiar favorecem o secretismo em torno do problema, o que tem contribuído para uma intervenção menos desenvolvida neste campo do que noutros tipos de violência intrafamiliar (como o abuso/negligência dos filhos ou a violência entre parceiros íntimos)”, explica a associação.
No entanto, a APAV acrescenta que a violência filioparental “não é um problema individual ou uma questão restrita ao contexto familiar”, pois trata-se de “problema social, de justiça e de saúde pública”, problema que tem levado a APAV a alertar a sociedade portuguesa para esta realidade, ainda obscura, da violência doméstica praticada pelos filhos contra os pais”.
“A violência doméstica, também na forma da violência filioparental, é um crime público que não pode ser remetido ao silêncio”, sublinha.