Para aterrar em segurança e evitar o perigo de explosão os pilotos são obrigados em determinados casos a reduzir o peso das aeronaves. Foi isso que aconteceu no passado domingo. O avião da companhia aérea do Cazaquistão teve de despejar combustível na zona de Coruche antes de aterrar na pista de Beja. Em situações de emergência é a única alternativa. Mas é uma alternativa cara para o ambiente. «O hidrocarboneto, quer caia em terra, quer caia em mar, vai poluir», alerta João Branco, presidente da Quercus.
Apesar de não ser igual a uma maré negra, o efeito é semelhante ao de um derrame de combustível num navio. Mas é mais perigoso nos solos do que no mar, já que é preciso remover o pedaço de solo onde cai o hidrocarboneto, sendo que o problema muitas vezes não é resolvido por não se descobrir o local afetado.
«Estes eventos acabam por ser de difícil deteção. Como o combustível é largado do ar, acaba por chegar a terra ou a mar mais ou menos disperso e pulverizado», explicou o presidente da Quercus. Aqui, o facto de o combustível se dispersar durante o trajeto pode atenuar o problema da poluição, quer dos solos, quer do mar.
No entanto, João Branco adianta que um derrame de combustível nestas circunstâncias acaba por ser um mal menor. Sobretudo de enquadrado nos níveis de poluição aérea. O aumento do tráfego aéreo e a possibilidade de incorporar uma quantidade considerável de biodiesel no combustível dos aviões são problemas mais preocupantes. No primeiro caso, a grande preocupação é o aumento da queima de combustível fóssil e consequente libertação de gases de efeito estufa, óxido de azoto, sulfatos, e outros produtos poluentes. No segundo, «caso a incorporação de biodisel venha a acontecer, é uma grande pressão sobre os terrenos agrícolas e vai trazer problemas, nomeadamente, em relação à desflorestação da Amazónia», já que o biodiesel é produzido a partir do óleo de palma e será necessário duplicar a área de produção.
Outros casos
Em 2011, uma avaria no trem de aterragem obrigou um avião da TAP com destino a Amsterdão a regressar a Lisboa e a aterrar de emergência. Para essa aterragem ser possível, o avião voou durante duas horas sobre o oceano Atlântico para largar combustível. Já em março deste ano, um avião da China Eastern Airlines foi obrigado a fazer uma aterragem de emergência, na sequência de um passageiro se ter sentido mal. Para conseguir aterrar, foi necessário reduzir o seu peso. Como é que isso é feito? Largando combustível. Foram largadas 30 toneladas de combustível que se espalharam por terra e por mar.
Tal como explica João Branco, este procedimento «acontece em casos de emergência e a segurança acaba por estar acima das outras preocupações».