Greve dos enfermeiros arranca amanhã com concentrações nos hospitais

Paralisação vai afetar blocos operatórios de cinco hospitais. Médicos estão preocupados com as consequências para os doentes

As reuniões dos sindicatos dos enfermeiros com a tutela não chegaram a bom porto e, como resultado, a greve prolongada da classe começa amanhã. Para o arranque, o grupo de enfermeiros à frente da iniciativa, intitulada “greve cirúrgica”, marcou para as oito da manhã várias concentrações nas imediações dos cinco centros hospitalares que aderiram à paralisação nos blocos operatórios.

Centro Hospitalar do Porto, Hospital de São João (Porto), Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Hospital Santa Maria (Lisboa) e Centro Hospitalar de Setúbal verão, a partir de amanhã, milhares de cirurgias programadas colocadas em causa até ao final do ano.

Os enfermeiros reivindicam a revisão da carreira, bem como a revisão da tabela salarial. Fizeram chegar ao Ministério da Saúde as suas propostas. A tutela – que num primeiro momento marcou reuniões com os sindicatos para dia 15 de novembro, mas que acabou por adiá-las, tendo sido a própria ministra a ligar aos sindicatos explicando que precisava de mais tempo para analisar as propostas – recebeu os sindicatos na última terça-feira, dois dias antes da data agendada para o arranque da greve, numa reunião conjunta com representantes dos ministérios da Saúde e das Finanças. Mas CNESE, FENSE, ASPE e SINDEPOR não gostaram das propostas do Ministério e das negociações nada saiu.

Em comunicado, o Ministério da Saúde esclareceu que “o Governo apresentou uma proposta que as estruturas sindicais agora irão analisar e que constitui a aproximação possível às reivindicações apresentadas, num contexto de sustentabilidade das contas públicas e de equidade social. Na proposta apresentada destaca-se, por um lado, a consolidação do enfermeiro especialista e, por outro, o reconhecimento da importância da gestão operacional de equipas pelo enfermeiro coordenador”, acrescentando que “o processo negocial decorre com inteira normalidade, aguardando o Ministério da Saúde que os representantes dos profissionais considerem, na sua avaliação, o esforço adicional de negociação realizado por parte do Governo”.

Os médicos, por sua vez, já vieram dizer que estão preocupados com a greve. O bastonário da Ordem dos Médicos dirigiu uma chamada de atenção à ministra da Saúde e ao Governo, “que devem ter atenção ao que está a acontecer na saúde em Portugal. Infelizmente o Governo não tem dado a atenção que devia à saúde, continua a desvalorizar, e é bem possível que situações semelhantes a esta venham a acontecer com outros profissionais de saúde”. Para Miguel Guimarães, “as pessoas já atingiram o limite do aceitável. O limite já foi ultrapassado e o Governo continua impávido e sereno a sorrir”, disse à Lusa.

“As pessoas que trabalham no SNS estão revoltadas com o sistema, estão fartas de ser enganadas por quem tem responsabilidade política e estão desesperadas. Só o desespero é que pode levar as pessoas a pensar fazer uma greve [de longa duração]”, defendeu. Miguel Guimarães mostrou-se preocupado com os doentes com “situações mais graves”, uma vez que “quando as greves são demasiado prolongadas”, levanta-se a possibilidade de essas situações se tornarem “complexas”.

O bastonário deixou ainda uma mensagem a Marta Temido: “A única coisa que é verdade é que o SNS não está definitivamente bem. E quem tem responsabilidades diretas sobre o SNS, que é o Governo, está a avaliar mal a situação ou não está sequer a avaliar a situação”, afirmou, considerando que a prioridade da ministra, que assumiu funções no mês passado, “devia ter sido perceber o que se passa com os profissionais de saúde”.