‘Rui Rio tem uma tendência para destruir o ativo que é o partido’

Antigo ministro Miguel Relvas pede mudança de estratégia, porque o PSD tornou-se irrelevante e o risco de derrota eleitoral é elevado. O primeiro teste serão as eleições europeias.

O desalento de alguns sociais-democratas com a liderança de Rui Rio não é novo e o antigo dirigente do partido Miguel Relvas não poupa nas palavras para deixar um alerta ao partido. «O PSD está a tornar-se irrelevante. O PSD e o seu líder começam a ser irrelevantes na vida política e na sociedade portuguesa», defende o também ex-braço direito de Passos Coelho, antecessor de Rui Rio na presidência dos sociais-democratas.

Miguel Relvas dá voz ao que outros militantes pensam e acredita que Rui Rio «tem uma tendência para destruir o ativo que é o partido». Neste ponto, o registo não poderia ser mais duro com o atual presidente do PSD, porque o ex-governante social-democrata recupera o passado, lembrando a Rio «que o que fez no Porto, nas eleições autárquicas há seis anos, em que quase destruiu o PSD, é um mau caminho para o PSD a nível nacional».  O ex-ministro refere-se ao apoio  dado nessa altura por Rui Rio ao independente Rui Moreira contra Luís Filipe Menezes. 

Em declarações ao SOL, Miguel Relvas não se assume como um pessimista, mas reconhece que existem «grandes riscos» eleitorais  com «um resultado muito negativo». Entre o prognóstico e a realidade há um dado essencial a reter e Relvas aconselha Rui Rio a mudar de atitude porque «os presidentes do PSD não são donos» do partido.  «Um grande partido é um partido em que o líder é capaz de somar, juntar e unir e não um líder que subtrai», argumenta o atual consultor internacional.

No PSD há quem garanta ao SOL que existe um sentimento de desalento, mas não há nenhuma contestação organizada. Contudo, Relvas acredita que o resultado será negativo se se mantiver a atual estratégia. O próximo teste serão as eleições europeias. 

Entre os sociais-democratas há quem ainda deseje o regresso do anterior presidente, Passos Coelho, mas Miguel Relvas prefere apontar o ex-primeiro-ministro como uma reserva de recuperação dos sociais-democratas em última instância: «Se a nova geração não tiver sucesso, haverá sempre uma expectativa, de poder ter – em último recurso – quem possa ajudar a recuperar [o partido]».

 

O desgaste interno de Rio

Desde que tomou conta do PSD, o   líder ‘laranja’ começou por ignorar as críticas, depois optou por desvalorizar as sucessivas polémicas, os silêncios de verão e, por fim, responsabilizou os críticos pelo desgaste interno de que é alvo. A ordem na direção é para não falar mais dos casos recentes, e defender as propostas do partido – como as 104 alterações ao Orçamento do Estado para 2019 – mas Rio ampliou o desalento de alguns militantes que o ouviram tanto em Viseu, como em Lisboa.

No périplo pelas distritais para explicar a estratégia e as alternativas para o orçamento, o presidente do PSD começou por dizer que acreditava na possibilidade de vencer as legislativas de 2019.  

 

Silvano não ajudou

Não fosse o caso das presenças do secretário-geral no Parlamento e Rio teria cumprido a missão de explicar e passar a mensagem a pensar no próximo ciclo eleitoral. Porém, o presidente do PSD encerrou  os discursos à porta fechada com os militantes, em Viseu e em Lisboa, não excluindo a possibilidade de derrota eleitoral, sem o dizer claramente. Segundo relatos feitos ao SOL por militantes presentes nas duas reuniões, Rio considerou que o partido trataria da sua saída, caso tivesse um resultado muito mau nas legislativas. E não esclareceu se sairia pelo seu próprio pé.

No balanço das reuniões com militantes de todos os distritos, Rui Rio assegurou que o resultado foi positivo. «Ambiente hostil não encontrei em lado nenhum, nenhum, nenhum. Agora, quando eu peço para as pessoas fazerem as perguntas todas, é mesmo para me perguntarem as mais difíceis, não é para se inibirem. Façam as perguntas, se não, não venho aqui fazer nada», declarou Rui Rio, citado pela Lusa, no último dia de debates em Lisboa. 

A análise do presidente do PSD não abafou a polémica da reunião com militantes em Viseu, quando abordou o caso do seu secretário-geral, José Silvano. E Rui Rio foi obrigado a esclarecer, em público, o que disse dentro de portas, depois de alguns dos presentes terem interpretado as suas palavras como as de um líder que «nunca deixa cair os amigos». 

 

«Uma canalhice»

Afinal, Rio quis dizer, segundo o próprio, que seria «uma canalhice alguém se aproveitar daquilo que é a fragilidade dos outros para se alcandorar a si próprio». Mas as explicações do presidente social-democrata e o facto de ter emitido um comunicado a esclarecer o que quis dizer deixou alguns deputados estupefactos, apurou o SOL junto de vários parlamentares.

Num comunicado oficial distribuído ao fim da noite da passada terça-feira,  Rui Rio não resistiu e atacou quem «divulgou esta mentira perversa». Um deputado admitiu ao SOL que esta atitude revela «algum nervosismo». 

A distrital de Viseu emitiu, por seu turno,  um comunicado a desmentir que Rio tenha dito que «não  deixaria cair os amigos».  O texto foi difundido pela sede nacional do PSD às redações e só chegou 48 horas depois da reunião se ter realizado. A distrital, liderada por Pedro Alves, não usou a mesma expressão de «mentira perversa», da direção, optando por uma solução mais benigna: « [A distrital] não pode aceitar que se procure minimizar e desvirtuar uma reunião tão importante e tão participada a nível distrital».

 

Passos Coelho janta com JSD

No PSD há quem acalente a hipótese de um regresso de Pedro Passos Coelho, apesar de o ex-líder do partido não ter dado sinais de querer voltar à atividade partidária. Mas a JSD  vai reunir antigos líderes daquela estrutura num jantar no próximo dia 25 de novembro e junta à mesma mesa não só o antigo primeiro-ministro, como o ex-líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, um dos críticos da atual direção do partido, além de Pedro Duarte, que também já se disponibilizou para concorrer à liderança do PSD como alternativa à atual direção de Rui Rio.