Sindicato dos estivadores diz que é um “dia vergonhoso para a democracia”

Mesmo com os trabalhadores em greve, um navio vai carregar os automóveis produzidos pela Autoeuropa para os transportar para a Alemanha. Sindicato critica a “santa aliança” entre o governo e os patrões

Os estivadores do porto de Setúbal estão concentrados à entrada do terminal desde as 6h00 em protesto contra o carregamento de um navio que foi contratado especialmente para transportar as viaturas produzidas pela Autoeuropa, que estavam paradas devido à greve.

António Mariano, dirigente do sindicato dos Estivadores e Atividades Logísticas (SEAL), considera que este é um “dia vergonhoso para a democracia portuguesa” em que o “governo se põe ao lado de criminosos”. “Aquilo que estamos a denunciar é um crime que se vive um pouco por todo o país, de perseguição aos sócios do sindicato, discriminação salarial e tudo mais”, acrescentou em declarações à Lusa.

"Temos a informação de que os trabalhadores que vêm substituir os eventuais do Porto de Setúbal vêm ganhar 500 euros para trabalhar três dias. Durante 20 anos nunca tiveram disponibilidade para fazer um contrato sem termo aos 150 trabalhadores eventuais do Porto de Setúbal [90 da Operestiva e os restantes Setulsete]", acrescentou Mariano.

O dirigente sindical lamenta que as entidades patronais do porto de Setúbal ainda não tenham mostrado disponibilidade para reunir com os trabalhadores, mesmo depois de terem sido propostas datas pelo sindicato, e afirma que o protesto poderá ser agudizado “face ao comportamento” registado esta quinta-feira.

Um forte dispositivo policial está instalado junto ao porto de Setúbal, que conta com pelo menos uma dezena de elementos da Unidade Especial de Polícia e da brigada de intervenção rápida da PSP.

A greve dos trabalhadores eventuais do Porto de Setúbal começou no dia 5 de novembro, para reivindicar um contrato coletivo de trabalho. A Operestiva propôs que 30 trabalhadores fossem integrados na empresa, mas apenas dois assinaram o contrato individual proposto.

A Autoeuropa recebeu garantias de que a realização do carregamento de automóveis acontecia esta quinta-feira, como estava marcado. O navio, que faz escalas regulares no porto de Emden, na Alemanha, “teve por base a garantia de uma solução para o embarque de veículos dada pelo governo e pelo operador logístico”, avançou a empresa.

“Com esta santa aliança entre patrões e o Governo, aquilo que vai acontecer hoje no porto de Setúbal é que este navio de transporte de automóveis vai trabalhar, mas vão ficar quatro ou cinco parados", afirma o dirigente sindical.