Não há semana que passe sem que o PSD seja alvo de uma polémica e entre os sociais-democratas cresce o sentimento de que o partido pode vir a ter uma derrota eleitoral sem precedentes. A confissão chegou a ser feita por um dos elementos da própria direção do partido, José Silvano, ao admitir que os sociais-democratas podem perder as legislativas se o clima de guerrilha interna prosseguir. A ideia, defendida ao DN, já tinha sido admitida pelo próprio líder, Rui Rio, em reuniões à porta fechada. Mas, agora, o discurso na direção parece ser o de nomear os autores do desgaste interno.
«Miguel Relvas é o mentor mais importante das conspirações do PSD», afirmou ontem o vice-presidente do partido, David Justino, citado pela TSF. Na resposta, Miguel Relvas limitou-se a dizer ao SOL: «Há coisas que não se comentam». Justino não se ficou por aqui e assestou baterias também ao presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, considerando-o uma «espécie de mentor» de conspirações internas.
O autarca de Cascais agradeceu, de forma irónica, que o tentem promover a líder de uma oposição interna, mas lembrou a Justino que «é social-democrata há mais de 40 anos, ainda no tempo em que [David Justino] era marxista leninista». Carreiras admite, por isso, que as declarações de David Justino possam «manter esses tiques do tempo do marxismo-leninismo». Mais, Carlos Carreiras lembra a David Justino que a direção de Rui Rio já não é oposição interna e que se deve preocupar «com projetos para o País», sublinhando que nas últimas eleições autárquicas Justino apoiou «candidaturas contra o PSD», sem especificar quais.
No terreno, o discurso de desgaste interno tem várias dimensões, que variam da desilusão de militantes de base ou dos apoiantes de Rio que preferem falar do «empolamento» dos problemas. «Deixem-nos trabalhar» pediu o presidente da distrital do PSD/Porto, Alberto Machado, em declarações ao SOL, parafraseando Cavaco Silva, nos tempos em que dirigiu o País como o primeiro-ministro. Para alguns elementos do partido, apoiantes do líder, parte do desgaste interno «também tem origem em alguns deputados que acham que vão ser excluídos da lista».
Já Paulo Ribeiro, presidente da concelhia de Lisboa do partido, reconhece as preocupações com os resultados eleitorais, considerando que «não há ninguém isento de responsabilidades».
«Se o PSD vive em conflito interno, perante os olhares dos portugueses, dificilmente acolhe a confiança dos eleitores, independentemente de quem gere essa conflitualidade», defendeu o dirigente local ao SOL. A ideia defendida por Paulo Ribeiro não está longe da opinião do antigo vice-presidente da Assembleia da República, Guilherme Silva. Em declarações ao jornal i, o também antigo presidente da bancada parlamentar disse que «é obvio que as divisões desacreditam o partido». Apesar de ter estado ao lado de Rui Rio nas eleições internas, Guilherme Silva também deu conselhos ao presidente social-democrata: «Quem tem responsabilidades no partido tem de ter a capacidade de unir e evitar divisões que fragilizam o partido».
O antigo secretário de Estado e ex-deputado José Eduardo Martins acrescentou que «há responsabilidades de parte a parte. Rui Rio é um homem com imensas qualidades, mas não todas as que são precisas» para a missão da liderança do PSD. No programa o Outro Lado, na RTP, o militante assume a sua insatisfação com o atual líder e aponta o dedo à «incapacidade de produzir um conjunto de protagonistas, resultados e ideias». José Eduardo Martins, recorde-se, já se colocou ao lado de Pedro Duarte, o ex-governante que se disponibilizou em Agosto, para concorrer à liderança do PSD.
Ao SOL, Pedro Duarte prefere dizer que «concorda totalmente» com a ideia de que a guerrilha interna prejudica o partido e prefere não comentar as sondagens.
A partir de Bruxelas, o eurodeputado e presidente da distrital de Braga, José Manuel Fernandes, prefere fazer o discurso de apelo à mobilização. «Somos todos precisos para ganhar eleições» ou «é imprescindível um partido unido e todos têm de fazer o máximo».
Europeias já mexem
O próximo embate eleitoral serão as europeias, em maio de 2019, e hoje Rui Rio estará ao lado do eurodeputado Paulo Rangel na festa da Europa, em Esposende, onde se esperam cerca de duas mil pessoas. O nome de Rangel tem sido apontado como o mais certo para encabeçar a lista nas próximas eleições, mas surgiram dúvidas nas últimas duas semanas de que o seu registo crítico à atual direção poderia vir a prejudicar a sua continuidade à frente da lista. Contudo, o presidente do PSD ainda não abriu o jogo sobre o dossiê das europeias e existe a convicção entre vários dirigentes de que Rangel acabará por ser a escolha. «Podem surgir nomes para o fragilizar para depois colocar Paulo Rangel como uma segunda escolha» , admitiu ao SOL uma fonte social-democrata. Certo é que a lista deverá sofrer uma renovação com a entrada de elementos da direção como Graça Carvalho ou Isabel Meireles e a possível saída de eurodeputados como Carlos Coelho. O mais certo, afiançaram várias fontes do PSD ao SOL, é o líder do PSD ser o último a anunciar a escolha para as europeias.