O trineto de Eça de Queirós, Afonso Reis Cabral, escreveu uma crónica dirigida aos estudantes que estão a ler o “calhamaço” chamado ‘Os Maias’.
“Foi escrito há 130 anos (imagina a tua vida multiplicada por oito), é pois natural que te pareça demasiado pesado, um cadáver de papel do qual queres livrar-te o mais rapidamente possível”, escreve Afonso, autor do livro O Meu Irmão, com o qual venceu o prémio Leya em 2014.
Na crónica publicada na Visão, o escritor fala sobre o “peso” da obrigação de ler aquele livro em particular e da forma como essa obrigatoriedade “estraga” o prazer da leitura. No entanto, Afonso aproveita para defender o seu trisavô: “o Eça não tem culpa de o submeterem à burocracia do ensino, de o terem posto nessa camisa de forças, e de te obrigarem a ti, que tens mais que fazer, a acatar ordens. Pensa que ele não escreveu para ti. Quer dizer, para te estragar a vida. Muito pelo contrário”.
Afonso Reis Cabral elogia os professores que tentam passar outra imagem de Os Maias – para além da de um “calhamaço” que tanto aborrece os alunos. Alguns deles, conseguem despertar um interesse no estudante… Mesmo que este não o queira admitir.
“De noite, ouves um chamamento vindo da mochila onde esqueceste o calhamaço, como se este cantasse baixinho. Embora queiras rejeitá-lo, talvez acabes por aceitar, e ainda agora to disseram na aula de Português, que estás no limiar da tal descoberta”, escreve o trineto de Eça de Queirós. Aos poucos, o aluno descobre que esta obra com 130 anos continua a ser atual e que, acima de tudo, a obrigatoriedade de ler em nada muda o valor do livro.
E para quem ficou com vontade de ler Os Maias, cuidado: a crónica pode estragar a leitura… “Repara que nem falei de incesto. Mas se queres ir por aí, muito bem: vais encontrar dois irmãos na cama, sendo que um deles continua a deitar-se nela mesmo depois de saber a verdade. Deixo-te o spoiler porque a boa literatura não depende só do enredo”, brinca Afonso Reis Cabral no seu artigo na Visão.
“A tua obrigação não é para com a escola, os professores, a nota. A tua única obrigação é para contigo, para com o teu próprio crescimento, e obras como Os Maias e escritores como o Eça de Queiroz dão-te armas para o futuro. Se suspeitares disto e mesmo assim decidires não ler, preferindo resumos que esquecerás logo depois do exame, paciência. Tu é que ficas a perder”, conclui.