Moradores do distrito de Nangande, na província moçambicana de Cabo Delgado, capturaram um alegado líder do grupo extremista islâmico responsável por vários ataques na região nos últimos meses.
O homem terá sido ferido num confronto com soldados na passada quarta-feira e foi encontrado dois dias depois num esconderijo abandonado por outros rebeldes. Segundo os locais, estaria à espera do seu irmão mais novo, que o levaria para a Tanzânia para receber cuidados médicos.
Mustafa Suale Machinga, de 30 anos, é um antigo membro das forças armadas moçambicanas. Teve acesso ao curso básico militar, onde terá aprendido a manejar armas de fogo. Regressou a Nangade há cerca de um ano, supostamente para frequentar uma escola corânica local.
Supostamente está envolvido na onda de violência que grassa na região desde Outubro de 2017. Os atacantes têm chegado durante a noite a aldeias próximas da fronteira com a Tanzânia, queimando casas e matando habitantes de Chicuaia Velha e também nas cidades de Lukwamba e Litingina. Os atacantes usaram armas de fogo, machetes e facas, roubando gado e incendiando as casas de quem não lhes abria a porta. Segundo a polícia, a ofensiva ter-se-á traduzido em mais de 90 mortos, 60 feridos e mil casas incendiadas.
Os ataques são atribuídos à organização Ahlu Sunnah Wa-Jammá (adeptos da tradição profética e da congregação). Este grupo nasceu como uma organização religiosa, num país onde cerca de 20% da população é muçulmana, na isolada região rural do Norte de Moçambique. A partir do final de 2015, o grupo começou a incorporar células militares e a preparar-se para a luta armada.
São apelidados de Al-Shabaab (“a juventude”) pelos locais, mas até agora não foram encontradas nenhumas ligações ao grupo extremista islâmico com o mesmo nome ativo na Somália.
Segundo investigadores os envolvidos são jovens locais, radicalizados pela retórica extremista do grupo. Apontam como motivo para o seu recrutamento as condições sociais degradantes, pobreza, desemprego, exclusão social e tensões étnicas locais.
Muitos dos membros que operam em Nangade são originários da cidade de Lichinga. Há cerca de três meses os lideres da comunidade terão sugerido ao governo que ofereça uma amnistia aos insurgentes, para evitar mais violência e por saber que são “rapazes da terra”.