Enquanto no Estádio José de Alvalade se discute e vota a manutenção da suspensão de Bruno de Carvalho como sócio, o ex-presidente publicou no Facebook um texto lido pela irmã aos sócios.
Na publicação, Bruno de Carvalho justifica a ausência e pede desculpa aos sócios. "Apresento me pela voz da minha irmã, não porque não queria estar presente. A minha ausência representa o respeito que tenho ao Sporting. Peço humildemente a todos os sportinguistas que pensem neste homem, bem como nos cinco anos de amor que dediquei ao Sporting. Estou a defender-me perante algo que considero injusto. Estou de consciência tranquila e não me arrependo da história que ajudámos a construir", escreve.
Leia aqui a publicação na íntegra:
"Caras e Caros Sportinguistas,
Tinha eu 6 anos, quando o meu pai me levou ao antigo Estádio José Alvalade. Quando volto àquele momento da minha infância, ainda sinto como o meu coração bateu acelerado, e a clareza com que soube, que ali, estava a missão e o sonho da minha vida: ser presidente do Sporting Clube de Portugal.
Os anos foram passando e o que ali descobri, foi-se estruturando e transformando em sentido de missão e responsabilidade.
Preparei-me. Vivi o nosso Clube de todas as formas: adepto, sócio, no estádio e nos pavilhões. Criei a Fundação Aragão Pinto, formei-me em gestão, fiz o mestrado em gestão de organizações desportivas, tirei o
curso de treinador. Em 2011, formei uma equipa e candidatei-me à presidência do Sporting Clube de Portugal.
Com muito pesar, não foi ali que pudemos dar o primeiro passo em direção àquela que seria a nossa missão, devolver o Sporting aos Sportinguistas. Resilientes, não baixámos
armas. E apesar de termos de esperar, e assistir à pior situação financeira e desportiva de sempre no nosso Clube, recandidatámo-nos em 2013 e assim começou a nobre missão para a qual todos vocês confiaram em mim, e na minha equipa.
Em cinco anos, fomos capazes de transformar o Sporting. E é um facto que em 2018, deixámos o nosso Clube muito mais forte do que o encontrámos.
Revitalizámo-lo. Trabalhámos na sua recuperação económica, financeira e desportiva, pagando dívidas e salários em atraso, recoperando passes de jogadores,
devolvendo aos Sportinguistas as modalidades que fazem parte do nosso ADN. Construímos património, tornámos o nosso Clube mais eclético e ganhador, aumentámos exponencialmente o número de associados, lutámos por um futebol português mais verdadeiro e transparente.
Voltámos a recuperar o respeito internacional, e, o mais importante, devolvemos aos sócios e adeptos o orgulho de ser Sportinguista.
Todos conhecem a obra que deixámos feita:
– O pavilhão João Rocha;
– Os sócio e regresso num minuto;
– A unificação da Curva Sul;
– O nº 12 só para os adeptos;
– A Gala Honoris Sporting;
– O Congresso The Future of Football;
– Fomos a única Direcção, nestas últimas décadas
apresentou resultados financeiros positivos, no Clube e SAD;
– Negociámos o maior contrato de direitos televisivos de sempre de um Clube português;
– Executámos e negociámos uma reestruturação financeira elogiada em todos os quadrantes;
– Realizámos juntos com todos os Sportinguistas a
construção da Cidade Sporting – pavilhão, 3 campos de futebol e a Rotunda;
– Passámos de 35 para 55 modalidades, trazendo de volta modalidades históricas do Clube como o Hóquei em Patins e o Volleyball;
– 2018 foi o ano com mais títulos, europeus e nacionais, conquistados na história de um Clube português;
E tantos outros feitos que juntos alcançámos…
Cinco anos e meio depois, estamos numa Assembleia Geral, que será determinante para começar a sarar feridas entre Sportinguistas, e trazer justiça a dirigentes que tanto deram por este Clube, elevando os patamares de exigência, atitude e compromisso.
A todos vós, ilustres Sportinguistas, agradeço do fundo do meu coração a presença nesta assembleia.
Hoje os sócios do Sporting Clube de Portugal são chamados a dizerem SIM ou NÃO ao levantamento da pena de suspensão com que fui punido, juntamente com dirigentes
que estiveram comigo até ao fim, no Conselho Diretivo a que tive a honra de presidir, entre março de 2013 e junho de 2018.
Travámos imensas batalhas e mexemos em muitos interesses. Desde o início do mandato percebemos que existiam duas possibilidades de caminho de gestão: juntarmo-nos aos interesses, ou juntarmo-nos à maioria dos sócios…
Estivemos sempre do vosso lado, ao lado dos sócios.
Apelámos à militância e à união, pois só assim, os interesses do clube prevaleceriam. Hoje sinto, que os sócios que em mim depositaram a sua leal confiança para erguer o Sporting, não me viraram as costas. Mas sim, subestimaram o poder de manipulação da comunicação social e distraíram-se. Eles aproveitaram-se disso, e tem sido fulminante.
Tenho um grande orgulho no trabalho que eu e a minha equipa desenvolvemos, mas neste caminho de transformação do Sporting, nem tudo foi perfeito: EU ERREI.
Cometi o erro de ter sido voluntarista na defesa dos Foi uma defesa cega e
intransigente, confesso. De tal forma que dei à comunidade sportinguista a ideia de que estaria agarrado ao poder quando a única coisa a que estava realmente agarrado era à incondicional defesa do nosso Sporting.
Da nossa família. Porque é assim que defendemos a família.
Cegos de convicção, e com as melhores intenções.
Percebo hoje, que aquele caminho que eu achava ser o certo, em alguns momentos não abonou a nossa família.
Posso dizer-vos também que APRENDI.
Hoje, olho para trás e vejo claramente como estava enganado. Por isso, mesmo sabendo que sempre defendi os superiores interesses do Sporting Cube de Portugal, fiz mal,
e por essa razão peço desculpa a todos os Sportinguistas!
Nenhum sportinguista merece o sofrimento que temos passado. Nós merecemos ser felizes.
No dia negro da invasão à Academia de Alcochete, para mim teria sido muito mais fácil defender os meus interesses:
pedia a demissão, íamos a eleições e hoje quem sabe, ainda seria presidente e tudo seria diferente. Era simples.
Acontece que, naquele momento, algo em mim se recusou a acreditar no sucedido e fiquei sem reação – ocorrendo-me apenas não desistir de defender o Sporting na presidência,
levando adiante o empréstimo obrigacionista já aprovado e em curso, e a renegociação da restruturação financeira, procurando assim, minimizar as consequências provocadas
pelo crime ocorrido em Alcochete.
Num momento de fragilidade no nosso Clube, devido aos acontecimentos trágicos já referidos, a demissão pública de
dois órgãos sociais (da Mesa da Assembleia Geral e do Conselho Fiscal e Disciplinar) veio fragilizar ainda mais a nossa situação. Apesar dos vários pedidos do Conselho Diretivo, estes órgãos sociais negaram sempre proceder
conforme os estatutos: um pela não marcação das Assembleias Gerais (de aprovação de orçamento e eleitoral para os órgãos demissionários) e outro, pela não realização do parecer sobre o orçamento.
Perante esta situação, o Conselho Diretivo deliberou a delegação da competência a uma comissão transitória da Mesa da Assembleia Geral por forma a realizar as duas Assembleias. Decisão essa suportada juridicamente pelo artigo 173 do Código Civil e na Jurisprudência dominante, nomeadamente do Supremo Tribunal de Justiça.
Acabei imolado em praça pública por alguns órgãos de comunicação social sem ética, sem escrúpulos e sem vergonha, que não olham a meios para alcançar os fins, que nem a minha família preservou nesta chacina mediática sem precedentes em Portugal.
Nesta semana importante para a promoção da paz e da tolerância no Sporting Clube de Portugal, voltei a sofrer ataques ferozes, movidos pelo intuito de manipular ainda mais o discernimento dos sócios do nosso Clube. Mas estou certo que os Sportinguistas não se deixaram enganar!… Não vou reagir. Nem alimentar as suposições maldosas e as mentiras que escreveram e re-escreveram. Recuso-me a alimentar os seus cofres com capas de jornais e revistas! Não lhes darei o que eles querem!
Deixem o Sporting e os Sportinguistas em paz!
Com a consciência tranquila relativamente a tudo o que fiz no nosso Clube, ainda acredito que, no final, a competência e a independência da justiça portuguesa acabarão por esclarecer tudo, e desmascarar o que realmente aconteceu.
Por fim, dizer a todos os sócios e adeptos do Sporting Clube de Portugal que hoje apresento-me aqui na voz da minha irmã, não porque não quisesse estar presente. É com a família que queremos sempre estar, e todos vocês continuam a ser parte integrante da minha. A minha ausência representa o respeito pelo Sporting. O respeito por esta Assembleia Geral.
A minha presença, que me é um direito adquirido enquanto sócio, infelizmente iria dar aos órgãos de comunicação social, que diariamente me chacinam, motivo para desviar a atenção do assunto principal desta Assembleia devolver aos sócios suspensos o
direito de voltarem a ser Sportinguistas em pleno!
Eu, continuo a ser o mesmo homem que fez do Sporting Clube de Portugal um Clube mais forte e que mereceu a vossa aprovação esmagadora nas eleições de 2017! Que
lutou pelo nosso Clube com a força de um Leão durante cinco anos e meio!
Quando hoje, forem chamados a votar, peço, humildemente, a todos os Sportinguistas que pensem nesse homem, e no melhor dos cincos anos de trabalho e dedicação que entreguei com afinco e paixão ao nosso Clube. Pensei no Bruno de 6 anos que da forma mais genuína fez do Sporting a sua missão.
Vocês merecem ser felizes! Nós merecemos ser felizes.
E no que depender de mim, irei sempre pugnar por um Sporting dos sócios e para os sócios!
Por um Sporting Clube de Portugal forte, independente e competitivo!
Viva o Sporting Clube de Portugal!"