Para a maioria dos portugueses, Natal é sinónimo de peru e bacalhau na hora de sentar à mesa. Optar por coisas diferentes e mais modernas nesta altura do ano pode não ser uma ideia apelativa para aqueles que preferem seguir a tradição. No entanto, há cada vez mais formas de ter uma ceia mais saudável e amiga da carteira dos portugueses. Sim… é difícil para os mais gulosos deixar as rabanadas e as filhoses de parte, deixar os queijos em cima da mesa sem lhes tocar ou até mesmo não comer a parte recheada do peru. Mas desengane-se se pensa que não há formas de dar a volta para tornar os pratos mais saudáveis. Há ementas que deixam água na boca e que não obrigam a cair no exagero – tanto para o estômago como para a conta bancária. E, como menos é mais, até são mais amigas do ambiente.
A verdade é que não é preciso ser radical: mesmo com estes princípios em mente, é possível manter a tradição à mesa de Natal. José Avillez é um exemplo disso. «A tradição muda um bocadinho de norte a sul do país, mas andamos muito à volta do peru, do bacalhau e do polvo», começa por dizer o chefe, admitindo que costuma ter um Natal em casa «muito tradicional».
«Quem é tradicional não corta nessas coisas, mas se pensarmos num registo assim muito diferente, que não é de todo o meu porque gosto de coisas muito tradicionais, podemos ter, por exemplo, um carpaccio de polvo, um bacalhau com espinafres ou um peito de peru desfiado em vez de um peru «inteiro», sugere ao b.i., afirmando que assim «é possível reduzir bastante os custos». Avillez, dos mais renomados chefes do país, explica que, se de facto for uma ementa deste género a escolhida para apresentar na noite de Natal, há «menos quantidade de proteína» e os pratos acabam por sair «mais baratos». Já no que toca aos doces de Natal, a conversa é outra. O próprio José Avillez admite que nesta parte da refeição «é muito difícil cortar»: «Há vários doces, como as filhoses, as rabanadas… enfim, todos esses doces típicos de Natal, em que é complicado cortar e torná-los mais saudáveis. Penso que neste sentido a única solução será mesmo só reduzir a quantidade», diz o chefe sem conter o riso.
Menos é mais… mais barato e mais saudável
E se durante o ano já se deve ter uma alimentação saudável – ou pelo menos tentar –, no Natal não se deve quebrar pelo menos totalmente a exceção. Claro que a época pede desvios, mas aqui o truque será mesmo a compensação. Segundo a nutricionista Inês Soares, da Clínica Iara Rodrigues, em Paço de Arcos, estes dias – entre o Natal e o Ano Novo – podem causar vários «estragos» na composição corporal de cada pessoas. «Sabemos que esta altura do ano é propícia à tentação, não só a de comer em exagero como a de gastar mais dinheiro! Contudo, há sempre maneira de conseguirmos evitar que isso aconteça. Para uma ceia de Natal mais saudável, podemos manter as tradições, mas fazer substituições inteligentes», sugere Inês Soares.
«O peru e o bacalhau, apesar de tradição à mesa, são ainda relativamente caros para as carteiras de algumas famílias portuguesas e, deste modo, podemos sempre arranjar alternativas mais baratas para termos na nossa mesa de Natal», diz a especialista, deixando algumas sugestões: «Podemos substituir o peru por frango, que tem um preço mais acessível e não deixa de ter as características da ceia, visto que também estamos a consumir uma ave. Pode fazer-se, por exemplo, um frango recheado com legumes, ou então um lombo de porco assado no forno que rende bastante», acrescenta a nutricionista.
Já o bacalhau, diz ao b.i, «pode ser substituído pelo polvo que também é uma tradição nas mesas de Natal e acaba por ser mais económico».
Mas a maior tentação de todas vem no fim: os doces de Natal.
Há quem resista, há quem não goste, mas quase todos acabam por comer e abusar das sobremesas nestes dias. Mas há alguns truques que podem ajudar a reduzir as calorias e a tornar a confeção das comidas muito mais saudáveis. «Podemos trocar as natas por iogurte natural ou grego ligeiro e reduzir a quantidade de açúcar, ou utilizar alternativas mais saudáveis como o açúcar mascavado ou mel», diz Inês Soares. Além disso, a nutricionista aproveita ainda para dar mais algumas dicas: «Podemos também evitar os fritos, em que temos, por exemplo, o caso das rabanadas que podem ser feitas no forno ou, no limite, serem envolvidas em papel absorvente logo após a fritura de preferência em azeite».
E as boas práticas não se esgotam assim que soam as doze badaladas do dia 25 de dezembro.
É costume haver sobras, precisamente pelo exagero de comida que se cozinha nestes dias especiais de festa, e quanto a isso, a especialista também tem algumas dicas a dar, revelando que não há necessidade de deitar nada para o lixo. Inês Soares diz que «reinventar» e «aproveitar as sobras» são as expressões que qualquer pessoa deve ter em mente até ao final de deste ano… Mas também durante os anos que aí vêm.